Bahia

Ialorixá denuncia obras nas Dunas do Abaeté para agradar evangélicos: 'Fim eleitoral'

O custo estimado da obra da Prefeitura de Salvador é de R$ 5 milhões

Reprodução / YouTube
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Mãe Jaciara Ribeiro, Ialorixá do Axé Abassá de Ogum, condenou as obras em trecho das Dunas do Abaeté, local tradicionalmente de cultos de religiões de matriz africana, onde está sendo feita uma contenção de concreto e intervenções que visam agradar somente o eleitorado evangélico.

As obras que visam urbanizar a área, que na última década foi frequentada em massa pelos fiéis neopentecostais, é de responsabilidade da Prefeitura de Salvador e o custo estimado é de R$ 5 milhões..

Segundo Mãe Jaciara, a obra tem acontecido com a maior celeridade. "Eles trabalham de madrugada", relatou em entrevista o Ligação Direta, da rádio Salvador FM, na manhã desta quarta-feira (17).

Para a Ialorixá, a própria aprovação do projeto, que no dia de assinatura da ordem de serviço contou com a presença de quase toda a bancada evangélica de vereadores da Câmara Municipal, tem o propósito eleitoreiro.

"Uma obra de R$ 5 milhões em plena pandemia, como tem dinheiro para tudo isso? É o dinheiro público sendo usado para fim eleitoral", aponta.

Em março, o MP-BA solicitou a suspensão das obras, mas elas foram retomadas pela Prefeitura.

IMPACTO AMBIENTAL

Apesar do parecer favorável do Inema, por exemplo, Mãe Jaciara suspeita do impacto ambiental da obra e do fluxo constante de evangélicos que sobem as dunas para peregrinar. Ela conta que com o passar dos anos, os praticantes do Candomblé que levam oferendas no Abaeté, passaram a ter maior preocupação com o material utilizado para evitar a poluição.

A mesma preocupação não é vista com outras pessoas que frequentam o local com a finalidade religiosa.

"Eles sobem nas dunas e a areia desce, não sei o real impacto disso, mas dá para perceber. Nós colocamos as oferendas em cima da área, sem degradação ambiental, sabemos o impacto de garrafas de vidro, plástico, do papel, e temos feito esse trabalho de conscientização", assegurou.

INTOLERÂNCIA

Se agora com a construção de uma estrutura que vai limitar ainda mais o culto religioso de matriz africana, antes a vida dos candomblecistas, ubandistas e outros, já não era fácil no Abaeté.

Mãe Jaciara Ribeiro revela que os ataques e ofensas vem de muito antes, principalmente dos evangélicos que acampam nas dunas.

"Quando a gente passava de branco, tirava uma planta, tocavam fogo nas nossas oferendas. É muito ruim o silêncio sobre o opressor. Nós não queremos disputa de território, não queremos que tire a construção e bote um terreiro", ressaltou.

Uma proposta polêmica do vereador Isnard Araújo (PL) previa a mudança do nome do Abaeté para "Monte Santo Deus Proverá". O PL, contudo, foi retirado de pauta após sua validade ser questionada