O Coletivo de Entidades Negras de Salvador organizou hoje (27) um ato contra o racismo policial e de taxistas na capital baiana em que foram denunciados casos como a detenção do jornalista e ativista negro Eduardo Machado, no dia 23 de junho.
Concentrados na Praça da Piedade, centro da capital, o grupo de ativistas seguiu em passeata até a Coordenadoria de Táxis e Transportes Especiais (Cotae) de Salvador, cantando palavras de ordem como “taxistas racistas não passarão”.
Discriminação
O jornalista Eduardo Machado conta que, em junho deste ano, tentou embarcar em um dos cinco táxis que estavam enfileirados à beira da praia, no bairro Calçada, onde estava com a esposa e um casal de amigos. Após a recusa de todos os motoristas, ele conta que questionou o porquê de não ter sido atendido, o que fez com que os taxistas chamassem a polícia. Após a chegada da viatura, Eduardo e um amigo foram colocados no camburão, onde permaneceram por duas horas, enquanto os policiais faziam davam voltas pela cidade. Depois disso, foram encaminhados para a Delegacia de Flagrantes, no bairro do Iguatemi.
“Já fizemos a denúncia em vários órgãos, inclusive no Ministério Público, após o ocorrido. Mas até agora não obtivemos nenhum retorno à altura, a respeito desse caso. Ao B.O. [boletim de ocorrência] eu nem tive acesso. Já se passou mais de um mês. Essa labuta que a gente vem fazendo só comprova o quanto é difícil fazer uma denúncia de racismo aqui no Brasil”, disse o jornalista de 32 anos, que também trabalha como articulador político do centro comunitário multimídia Agência de Comunicação do Subúrbio.
No dia da detenção, a esposa de Eduardo, a cineasta Larissa de Andrade, ficou no local após o ocorrido e entrou em contato com integrantes de coletivos negros, dos quais ambos fazem parte. Com isso, o assunto ganhou as redes sociais e, no fim da noite do dia 23, Eduardo foi liberado.
“Fui a vários lugares, nas ruas de Salvador, procurando por ele, desesperada, procurando meu companheiro e, independente disso, uma vida. A primeira questão é o direito à vida. Quando cheguei à delegacia, [houve] muita chacota. Não aconteceu nada, felizmente, mas estamos aqui, literalmente, lembrando que poderia ter acontecido alguma coisa por algo mínimo que foi tentar ir para casa e ter uma corrida negada”, disse Larissa.
Larissa e Eduardo acreditam que o caso foi resolvido no mesmo dia porque ambos fazem parte de grupos do movimento negro. Com a repercussão quase instantânea do caso, a ouvidora do Governo da Bahia, Vilma Reis, foi pessoalmente à delegacia resolver o assunto.
Protesto
No protesto de hoje, ao chegar à sede da Cotae, várias manifestantes deram depoimentos sobre casos em que foram discriminados ou preteridos por taxistas em Salvador. O casal Eduardo e Larissa foi recebido na sala do coordenador da entidade, Marcelo Tavares, que alegou não saber do caso.
Procurada pela reportagem, a Secretaria de Mobilidade do município (Semob) informou, em nota, que “não pode se pronunciar por se tratar de um crime de racismo”. Sobre as denúncias de violência policial, a Secretaria de Segurança Pública do Estado não respondeu até o fechamento desta matéria.
Fonte: Tribuna da Bahia