Com a proximidade do primeiro dia de provas do Exame Nacional do Ensino (Enem), que acontece neste domingo (13), as marcas trazidas pelo ensino à distância, em razão da pandemia, não serão esquecidas por milhares de estudantes baianos, bem como para as alunas soteropolitanas Laís Rodrigues e Júlia Oliveira.
Aos 20 anos de idade, a jovem Laís Rodrigues, que cursou o ensino médio em uma rede estadual de ensino, na capital baiana, deseja a aprovação em medicina veterinária. Mas, para ela, o ensino à distância acabou prejudicando seu sonho.
Em conversa com o Portal Salvador FM, Laís revelou que sente-se inferior em relação ao ensino de outras pessoas. “A falta de oportunidades, porque as oportunidades que outros tiveram, eu não tive e não tenho. Provavelmente não terei mais e nem a nível financeiro isso vai me proporcionar todas as oportunidades”, contou a estudante, que disse ainda sentir-se pressionada e emocionalmente prejudicada : “cobrança por um futuro”.
Para a estudante Júlia Oliveira, de 17 anos, que também almeja cursar medicina veterinária e fez o 1° e 2° anos do ensino médio à distância, a preparação para o Enem também não aconteceu nesse período. “Cursei em um bom colégio do interior, mas no quesito preparação para o Enem, não se destacou tanto. O que já é um cenário completamente diferente do colégio em que cursei o meu 9° ano e agora este último ano do ensino médio”, pontuou.
Júlia ainda contou que “tirou o atraso dos estudos” somente no 3° ano. “Meu colégio ficou entre os 10 melhores da capital. É muito focado, todas as provas que fiz, os métodos de correção, tudo foi muito bem programado e fará diferença [..] Ao todo, este ano, fiz 16 provas estilo Enem, redações semanais e simulados. Me sinto preparada, fiz o Enem ano passado, tenho consciência do que preciso e espero alcançar”, destacou.
A trajetória acadêmica de Laís, nos últimos anos, é marcada por muitos percalços, especialmente pelo destino à distância. De acordo com ela, durante todo o ano de 2020, as aulas não ocorreram. “Quando retornamos, em 2021, a proposta era para que fosse um ano em dois, ou seja, duas séries, no caso o 1° e 2° ano de ensino”, disse.
Para a estudante de 20 anos, além das aulas terem atrasado no início do ano passado, foi uma experiência “frustrante”. “Extremamente, primeiro porque, presencialmente a escola já não fornecia o melhor estudo, se o ensino não era bom no presencial, no online ficou muito pior. Aulas desorganizadas, horários reduzidos, troca constante de professores, além da ausência de professores em algumas matérias”, explicou a estudante.
Laís sinalizou ainda que até hoje as aulas não foram regularizadas, em razão de uma reforma inacabada no colégio em que estuda. Conforme pontuou, as aulas não acontecem mais de forma online, somente presencial, mas de forma intercalada, “uma semana com aula, outra sem”, contou.
Já para Júlia, que não cogita entrar em uma faculdade particular, por opção, planeja passar este ano, mas não descarta a possibilidade de fazer um cursinho, caso não obtenha a nota desejada para se classificar na Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB).
Apesar de reconhecer a situação desigual e os obstáculos de muitos alunos com o ensino à distância, a estudante Júlia revelou que muitos transtornos foram causados com essa dinâmica intensa de ensino.
“É um colégio que cumpre o que promete a nível de qualificação dos professores, de carga horária e da estrutura. Mas junto com isso teve a cobrança e o estresse emocional. Foram mais de 3.000 mil questões feitas, entre simulados e provas. Fora as redações e demais atividades. Já teve situações em que estudei, estudei e tirei uma nota ruim, dá uma sensação que não importa o quanto você tente, chega um limite que você não consegue mais”, revelou a jovem de 17 anos.
Para Laís, o que ficou é a sensação de despreparo e temor para os próximos dias: “Não tive nenhuma preparação para o Enem. Nesses anos, não fiz nenhuma prova escrita, nenhuma presencial. Isso me prejudicou 100%”, afirmou.