Bahia

Endividamento recua pelo 4º mês consecutivo e atinge 67,4% das famílias de Salvador

Aumento dos juros e risco de inadimplência tornam o crédito mais caro e seleto, e comércio vê consequência em queda nas vendas

Ilustrativa
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A PEIC – Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, da Fecomércio-BA, mostrou que, em janeiro, a taxa de famílias endividadas em Salvador foi de 67,4%, quarta queda seguida e ficando abaixo dos 69,3% do mês de dezembro. Em relação a janeiro de 2021, contudo, houve um aumento de 5,5 pontos percentuais, quando naquele mês a taxa de endividados registrada foi de 61,9%.

Atualmente, são 628,4 mil famílias na capital baiana que possuem algum tipo de dívida. Desde setembro, quando começou o ciclo de queda da taxa, houve redução de 44 mil famílias que saíram das dívidas. Porém, o atual patamar está muito acima do visto no início de 2021, de 575 mil famílias endividadas.

“Por esses números já é possível fazer uma breve análise de que o cenário ainda é delicado, pois a taxa de 67,4% está próxima do recorde histórico visto há alguns meses, porém, com o aumento dos juros e o risco de inadimplência, diante um mercado de trabalho pouco aquecido, tem tornado o crédito mais caro e mais seleto”, destaca o consultor econômico da Federação, Guilherme Dietze.

A inadimplência também está na trajetória descendente. Em janeiro, a taxa de famílias com dívidas em atraso atingiu 29,1% ante os 29,4% vistos em dezembro. Na comparação anual, houve avanço de 3,1 pontos percentuais, de 26% para os atuais 29,1%. São 271,5 mil famílias que precisam acertar as contas não pagas até a data do vencimento.

“Um ponto de atenção na pesquisa é o percentual de famílias que dizem antecipadamente que não terão condições de pagar a dívida em atraso. Em janeiro, o percentual foi de 9,8%, o maior desde fevereiro do ano passado, de 9,9%. Sinal claro da dificuldade financeira das famílias com a inflação em alta e desemprego não melhorando quanto se esperava”, pontua o economista.

Sobre os principais tipos de dívida, o cartão de crédito lidera com 90,8% entre os endividados, percentual inferior ao de dezembro (91,8%) e abaixo do visto em janeiro de 2021 (94,7%).

O segundo tipo de dívida mais frequente é o carnê com 8,1%. Foram quatro meses de quedas, quando em setembro o patamar estava em 13,3%.

“Essa modalidade é muito comum para compra de bens duráveis no comércio, como fogão, geladeira, televisor etc. Com o aumento da taxa de juros esses produtos tiveram tanto um aumento de preço na ponta, quando no encarecimento do financiamento, o que diminuiu a atratividade para o consumidor. Além disso, tem a questão da maior restrição de crédito diante dos ricos do não pagamento”, contextualiza o consultor econômico da Federação.

Outra questão que foi observada na análise é o perfil de endividamento dos carnês. O percentual de endividados da faixa de renda mais elevada foi nulo, enquanto para a classe de renda de até 10 SM, teve 8,9% de endividados em janeiro. Ou seja, os carnês são alternativas importantes para consumo das famílias com renda mais baixa.

“O resultado geral mostra que o aumento de juros tem impactado no nível de famílias endividadas. O problema é que deve haver mais aumentos da taxa básica de juros da economia, a SELIC, superando os 10% ao ano já no início de fevereiro. Além de encarecer ainda mais o crédito, vai impactar nas famílias com contas em atraso, pois os bancos irão repassar taxas mais altas”, pontua Dietze.

E o comércio tem sentido o impacto da inflação e do aumento dos juros. O faturamento do setor, em novembro de 2021, foi 7,1% menor do que no ano anterior, uma queda forte não esperada. Setores como o de eletrodomésticos e eletrônicos, além dos móveis e decoração, devem ser os mais impactados pelo encarecimento do crédito, diminuindo a atratividade de compra pelo consumidor.

Portanto, a queda do endividamento não traz alívio para a economia. Reforça somente que este ano de 2022 será de desafios para as famílias encontrarem formas de complementar a renda, sendo que por outro lado haverá uma inflação ainda elevada e um cenário econômico de pouca oportunidade de emprego.