A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito de fake news começou hoje (22) uma série de audiências públicas para ouvir pesquisadores e autoridades sobre como o fenômeno pode ser definido e quais as suas características. O objetivo é delinear o problema de modo que os parlamentares possam dar as respostas a ele.
A relatora da comissão, deputada Lídice da Mata (PSB-BA), explicou que o tema foi escolhido para balizar os trabalhos do colegiado. “A ideia de que iniciássemos o trabalho com audiência que debatesse o conceito de fake news foi justamente para que pudéssemos iniciar buscando chegar a pontos de unidade que nos levasse à compreensão de como o fenômeno ocorre e como podemos combatê-lo”, declarou.
O professor de comunicação da Universidade Federal da Bahia e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital (INCT.DD), Wilson Gomes, caracterizou fake news como uma prática própria do mundo digital que teria aparecido em 2016, tendo como marco as eleições presidenciais dos Estados Unidos. No processo, a atuação da empresa Cambridge Analytica – que utilizou dados de dezenas de milhões de eleitores para direcionar conteúdos pró-Trump – foi revelada há dois anos e originou investigações pelo Parlamento daquele país.
A disseminação de conteúdos forjados, continuou o acadêmico, apareceu em um contexto de extrema polarização política impulsionada pela atuação de grupos de extrema-direita nas redes sociais. Ela se beneficia da conectividade intensa das pessoas, que chamou de “hiperconexão”, e tem como aspectos fundamentais a alta velocidade da viralização dos conteúdos e seu alcance transnacional.
“Chama-se fake porque são forjadas, falsificações, alterações, fabricações e invenções de fatos. Pode pegar um fato verdadeiro e distorcê-lo, fato meio verdadeiro meio falso. Pode inventar um fato. O problema não está somente em ser fake, mas no caráter maligno, para destruir reputações. Não é parte do jornalismo, é parte da política, daquela que chamam de política suja”, delimitou o pesquisador.
O presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Daniel Bramatti, relatou que a organização e seu projeto de checagem Comprova evita utilizar o termo fake news. Isso porque ele não abarcaria a complexidade do problema uma vez que trata de fenômenos diferentes, como sátira, conteúdo com erros factuais ou mensagem com intenção de gerar dano.
Outra inadequação do termo estaria relacionada ao seu uso por políticos para criticar veículos e notícias que desagradam. “O termo foi sequestrado pelos políticos, principalmente pelos autoritários. Chamam de fake news tudo o que o desagrada. Não usamos [o termo] pra evitar essa confusão que alguns políticos estão fazendo”, comentou.
O advogado Walter Capanema definiu fake news como “desinformação com intenção de prejudicar alguém”. Nas disputas eleitorais, acrescentou, a prática pode ter mais de um elemento. Pode ter tanto um sentido negativo, para prejudicar um candidato, quanto positivo, para fortalecer a imagem de um concorrente no pleito.
O comandante do Comando de Defesa Cibernética do Exército Brasileiro, general Guido Amin Naves, creditou o surgimento das fake news à explosão do uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Ele destacou que a profusão dessas mensagens está relacionada às facilidades de produção e difusão destes por qualquer um.
Naves alertou que o debate sobre o combate às fake news deve considerar as novas formas utilizadas para esse tipo de material. Ele citou o caso do que vem sendo chamado de deep fake (ou conteúdo profundamente falso, em tradução livre).
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