O Ministério Público da Bahia (MP-BA) apura e acompanha a denúncia de uma família de Salvador que afima que o corpo de um parente, identificado no Instituto Médico Legal (IML) da capital baiana, foi enterrado sem o conhecimento dos familiares. O sepultamento ocorreu em junho de 2016, mas a família só tomou conhecimento do paradeiro da vítima no mês de fevereiro deste ano.
Conforme a família, o mecânico Synval Oliveira Pimental, de 51 anos, foi visto pela última vez no dia 22 de maio, na Avenida Barros Reis, em Salvador, a caminho de casa. Segundo a polícia, a vítima foi sequestrada por três homens e colocada na mala de um carro. O corpo de Synval foi encontrado no dia seguinte, na BA-526, conhecida como CIA-Aeroporto Sul, e levado para o IML.
No entanto, a filha da vítima, a auxiliar administrativa Laís Lopes, disse que foi diversas vezes ao Instituto Médico Legal de Salvador, mas foi informada que o corpo do pai dela não estava lá. "Perdi as contas de quantas vezes eu estive lá. Não só eu. Meu esposo também foi, outras duas tias minhas também estiveram lá várias vezes e disseram que meu pai não estava lá", disse ao G1.
[Instituto Médico Legal (IML) de Salvador. Bahia (Foto: Reprodução/ TV Bahia)] Familiares de seu Synval estiveram diversas vezes
no IML de Salvador em busca do corpo dele
(Foto: Reprodução/ TV Bahia)
De acordo com o IML, no dia 24 de maio, o corpo de Synval foi apresentado ao perito do órgão e identificado no dia 4 de junho, no Instituto Pedro Melo, na capital baiana, através das impressões digitais. Synval foi enterrado no dia 20 de junho.
A filha Laís afirma que não foi informada pelo IML que o corpo do pai dela havia sido identificado e enterrado. Após tomar conhecimento de que podia fazer a busca pelo mecânico no setor de antropologia, que analisa as ossadas, também no IML, a auxiliar administrativa teve informações do paradeiro do corpo do pai.
"Como eu ia lá [no IML] e não achava, me interessei em ver as ossadas. Aí pedi no DHPP [Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa] um encaminhamento [para poder ter autorização e fazer a busca no setor]. No dia 8 de fevereiro ligaram informando que acharam as informações de meu pai. Me mostraram guia de sepultamento, laudo cadavérico e duas fotos dele", relatou Laís ao G1.
A auxiliar administrativa conta que durante as várias buscas que fez no Instituto Médico Legal de Salvador, foram apresentadas fotos de outros corpos a ela e aos outros familiares que estiveram no local, mas as imagens do pai dela não estavam entre os documentos.
[Laís Lopes, filha de seu Syval, esteve no cemitério Quinta dos Lázaros, após saber o paradeiro do corpo do pai. Bahia (Foto: Reprodução/ TV Bahia)] Laís Lopes, filha de seu Synval, esteve no cemitério
Quinta dos Lázaros, após saber o paradeiro do
corpo do pai (Foto: Reprodução/ TV Bahia)
Após ter informações do enterro do pai, a auxiliar administrativa esteve no Cemitério Quinta dos Lázaros, em Salvador, local onde, segundo o IML, Synval foi sepultado."Eu não tive o direito de enterrar meu pai com dignidade", lamenta a filha.
Ao G1, Laís disse que pretende entrar com uma ação na justiça contra o governo da Bahia por conta da falha. "Meu advogado já está cuidando disso. Com certeza, não fui a primeira e nem vou ser última", afirmou.
O promotor do Ministério Público da Bahia David Gallo, que acompanha o caso, disse que vai pedir a exumação do corpo do mecênico Synval Pimentel e ainda um exame de DNA.
"Será que o corpo realmente que foi enterrado foi o dele? É uma coisa que eu também foi querer saber, porque eu não tenho certeza. A família não reconhece o corpo, a família procura o corpo. Quando ela tem acesso a esse corpo, ele já está enterrado. Como é que ela vai saber se é aquela pessoa? É outra coisa que o IML vai ter que me explicar", afirmou o promotor.
O diretor do Instituto Médico Legal de Salvador, Mário Câmara, afirmou que todos os corpos que dão entrada no IML passam por vários métodos de identificação, através de impressões digitais, arcada dentária e DNA. Câmara afirmou ainda que também é feita a coleta de material biológico das vítimas. No caso do mecânico, o diretor do órgão reconhece que pode ter havido uma falha.
"Eu vejo duas hipóteses: ou uma falha humana, um servidor deixou de colocar o nome do senhor Synval no sistema, mas acho isso pouco provável porque nós atendemos a mais de 30 mil famílias, 30 mil vítimas de violência no ano passado e todas entraram no sistema e esses servidores são servidores que trabalham há dez ou vinte anos fazendo só isso. Uma outra possibilidade é a possibilidade do próprio sistema. Nesses meses de maio, junho e julho nós estávamos implementando um sistema novo em toda Polícia Técnica. É possível que esse sistema, que estava em teste na época, tenha falhado”, explicou o diretor do IML.
[Osvaldo é procurado pelo assasinato do mecânico Synval. Bahia (Foto: Reprodução/ TV Bahia)] Osvaldo Rocha é procurado pelo assasinato do
mecânico Synval (Foto: Reprodução/ TV Bahia)
Pedido de prisão
O promotor David Gallo pediu à Justiça, nesta terça-feira (21), a prisão preventiva do principal suspeito da morte do mecânico Synval Pimentel. Até o fechamento desta reportagem, a solicitação não havia sido julgada pelo juiz.
Conforme o Ministério Público, o principal suspeito foi denunciado à Justiça pelo MP-BA era um vizinho da vítima, Osvaldo Rocha Viana Filho, que também era amigo de Sinval. Outras duas pessoas, até agora não identificadas, também teriam participado do crime.
Segundo o MP, o mecânico foi morto por vingança por conta de um susposto roubo que ele teria cometido. O vizinho Osvaldo chegoua ficar preso por 18 dias, mas foi solto e, desde então, está foragido.
Ainda conforme o Minstério Público, o inquérito conclui que Synval foi vítima de homicídio qualificado, com ocultação de cadáver. Após a família descobrir o paradeiro do corpo de Synval, o laudo cadavérico foi enviado à Polícia Civil, informou o promotor David Gallo. O caso foi investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Reprodução: G1 – Bahia