Os moradores da comunidade do Solar do Unhão estão organizando um protesto nesta terça-feira (17) para constranger a direção da reabertura do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) que acontece também nesta terça (17).
O movimento, liderado pela Associação de Moradores do Solar do Unhão e de instituições sociais que promovem trabalho social no bairro, como o Coletivo de Entidades Negras (CEN) e o Museu Street Art Salvador (MUSAS), critica a falta de diálogo e o desrespeito da gestão do MAM com os moradores, demonstrando o racismo da gestão cultural do museu.
De acordo com o movimento, a forma de tratamento do atual diretor do MAM, Pola Ribeiro, e de outros gestores anteriores com a comunidade desrespeita tratados e legislações internacionais às quais o Brasil se submete e que preconizam a interação social do patrimônio com o entorno. A exemplo das orientações da UNESCO, que determinam, desde a XV Assembléia Geral de Icomos, corrida em 2005, em Xi’An, na China, nesse sentido. A mesma regra também está prevista na primeira parte do artigo 7º da Carta de Veneza e na própria concepção de Lina Bo Bardi, a arquiteta ítalo-brasileira que idealizou o MAM e tantos outros equipamentos culturais do Brasil. “Lina Bo Bardi está do nosso lado. Eles que estão do outro”, diz manifesto dos moradores, que será distribuído na porta do museu nesta terça (17).
No texto, que chama o museu de “referência opressora e imperialista para o povo que vive com tanta dificuldade na comunidade”, uma série de questões são apontadas. Entre elas, está o descuido com a escada de acesso da comunidade à praia das pedras, que o Museu, mesmo tendo investido R$ 30 milhões, não contribuiu com a reforma. A comunidade também reivindica apoio para a construção de um espaço esportivo, uma quadra, que garantiria lazer para a juventude local em uma área que não é tombada, entre o Museu e a entrada do bairro.
O manifesto chama atenção também para o tratamento diferente para as elites que ganharam um píer e um atracadouro para estacionar suas lanchas. “O MAM acredita que é preciso píer e casarão para as elites, mas que não é necessário garantir o esporte e o lazer da comunidade do Solar do Unhão”, diz outro trecho, que também apontam a brutalidade do museu ao colocar arame farpado e uma cancela para impedir a aproximação dos moradores do espaço.
O arame farpado tem o objetivo, segundo a direção do museu, de impedir o acesso à Prainha, bloqueado pelo MAM para moradores. No entanto, os manifestantes afirmam que a faixa de areia segue cheia durante os finais de semana, ocupada pela elite que para lá com suas lanchas.
A elitização do museu vai em rota de colisão com tudo que foi defendido pela sua idealizadora. “Não somos dignos, para eles, de circular pelo Parque de Esculturas. Devem achar que não sabemos quem são aqueles renomados e empolados artistas. Nos olham nos medindo da cabeça aos pés. Mas mal sabem eles quem somos. E que daqui não sairemos e que resistiremos até o último momento. Não topamos museu racista, não topamos uma elite que nos odeia! Somos defensores da cultura de um povo. Lina Bo Bardi está do nosso lado. Eles que estão do outro”, diz o texto.