A pandemia do novo coronavírus, que tirou a vida de milhares de baianos nos últimos quatro meses, foi responsável também por fazer outros 20 mil perderem os seus empregos no setor do comércio – o que representou uma retração de 10% no total das vagas. A revelação foi feita pelo empresário Carlos Andrade, presidente da Federação do Comércio, Serviços e Turismo da Bahia (Fecomércio-Ba). Em conversa com o jornalista Donaldson Gomes, na live Política & Economia, no Instagram do CORREIO (@correio24horas), Carlos Andrade disse ainda que não vê uma perspectiva de recuperação destes postos de trabalho nos próximos três meses.
Para ele, a tendência para os próximos meses é de um aumento no número de desempregados no setor, pelo menos até dezembro. “Eu pensei que em 30 ou 60 dias essa pandemia iria passar, mas não foi feito o dever de casa. Eu entendo que teremos uma queda de empregos nos meses subsequentes, em agosto, setembro e outubro”, projeta. “Vamos pedir a Deus e entregar a Irmã Dulce, para que possamos ter um Natal, pelo menos no número de empregos, reestabelecido em relação a dezembro de 2019”, diz Carlos Andrade.
Carlos Andrade acredita que a retomada da atividade depende muito de um processo de reeducação para a vida no mundo pós-covid-19. “Eu sempre fui otimista, mas temos que ser realistas, tem muitas empresas quebrando e que não vão conseguir sobreviver”. “É um cenário lamentável. A coisa mais nobre que nós empresários podemos fazer é gerar emprego. Quando uma empresa fecha, em média são de quatro a cinco empregos perdidos”, diz.
Reabertura
O presidente da Fecomércio-Ba explica que os próximos dias servirão para avaliar o ritmo de retomada da atividade econômica, após a reabertura dos shoppings. “Está todo mundo avaliando como as coisas vão acontecer, mas eu temo que os números não serão muito agradáveis”.
Segundo ele, nos primeiros dias de reabertura, as lojas venderam 20% do que vendiam antes. “De terça-feira para cá, as vendas aumentaram para 30%, mas a verdade é que está todo mundo esperando para ver o que irá acontecer”, explica.
Segundo ele, as empresas estão trabalhando para dar tranquilidade à população para frequentar os estabelecimentos, porém ainda existe bastante receio de parte da população. “Estamos fazendo um trabalho de conscientização em relação às regras”, diz.
Para ele é importante contar com a sensibilidade do poder público em relação ao momento. “Temos que contar com o governo federal na liberação do crédito, do estado em relação ao ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) e da prefeitura em relação às taxas”, pede.
O presidente da Fecomércio-Ba acredita que a recuperação econômica passa pelo consumo. “O trabalhador brasileiro ganha muito pouco por um lado e do outro, o governo arrecada muito e faz pouco. Infelizmente esta é a dura realidade”, afirma. “Existe uma distribuição de renda perversa, com muitos ganhando pouco e poucos ganhando muito”, lamenta. “Todos nós sofremos, até a classe A, mas essa pandemia foi mais cruel com aqueles que vivem do salário mínimo e com os informais. Esse que ganha pouco foi altamente prejudicado”, diz.
Poder público
Para o presidente da Fecomércio-Ba, Carlos Andrade, o impacto da covid-19 na economia brasileira é muito mair do que se esperava lá atrás. Ele acredita que a crise perdura por mais tempo do que se imaginava inicialmente e por falta de planejamento do governo federal. “Uma coisa é certa, a decisão política do nosso presidente não foi muito boa. Ele não conduziu o país pelo caminho científico. Houve uma politização, não só dele – de alguns governadores e prefeitos também”, diz.
Carlos Andrade acredita que faltou planejamento. “Aqueles governos que planejaram, que foi o caso do governo da Bahia com a Prefeitura de Salvador, se saíram bem melhor nesta crise, nesta guerra”, diz. “Nosso governador Rui Costa e o prefeito ACM Neto, apesar de adversários políticos, foram muito competentes em olhar a coisa pública. Mesmo com todo esse trabalho, estamos chegando aos 90 mil mortos”, pondera.
O presidente da Fecomércio-Ba ressalta entretanto que o auxílio emergencial de R$ 600 foi o que manteve um mínimo de fôlego na atividade comercial. “O auxílio e as regras trabalhistas foram muito importante. Houve uma preocupação em evitar um desemprego maior”, pondera.
Para o presidente da Fecomércio-Ba parte das dificuldades enfrentadas durante a pandemia se devem às fragilidades que o sistema de saúde já tinha antes. “O Brasil não estava preparado. Deram pouca importância à saúde”, avalia.
Crédito
Apesar do anúncio do governo federal de ter liberado mais de R$ 3 bilhões em crédito para o setor produtivo, Carlos Andrade diz que pouca coisa chegou nas empresa. “O dinheiro ficou em Brasília. Não chegou nada ou quase nada para os empresários. E quando chegou, já no mês de julho, acabou rápido”, disse. Segundo Andrade, o setor produtivo aguarda a liberação de uma nova remessa de crédito, por parte da Caixa Econômica. “Esperamos que chegue alguma coisa para a Bahia”, torce. “O que alavanca o nosso negócio é o crédito. Quem tem lojas em shopping, passou quatro meses com as portas fechadas. As lojas de rua passaram três meses. E nossas despesas foram mantidas, os boletos continuaram chegando normalmente. As contas de luz, água e telefone vieram normalmente”, diz. “Os bancos não tiveram sensibilidade. Apesar dessa guerra, os bancos oficiais foram duros. O Banco Central melhorou as condições apenas em julho. Mas continuamos com muita dificuldade”, afirma.
Reprodução: Correio 24 horas
da Redação do LD