Bahia

Após paralisação, rodoviários ameaçam greve

Categoria pede mais segurança e melhores condições de trabalho

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Estações de transbordo e pontos de parada lotados marcaram o início da manhã de ontem 16). Após um assalto a ônibus na manhã da última segunda-feira (14), na Avenida Bonocô, que culminou em um cobrador de ônibus ferido com um tiro, os trabalhadores rodoviários decidiram cruzar os braços entre as 4h e 8h, como forma de protestar contra a falta de segurança e também pressionar o poder público a cumprir com o acordo de Participação nos Lucros e Resultados (PLR), que teria sido firmado há dois anos, entre empresas e o sindicato dos rodoviários. 
Com a paralisação, a capital amanheceu caótica com muitos usuários do transporte público impedidos de circular pela cidade, não lhes restando alternativa, a não ser aguardar a normalização do serviço. Quem pôde ou estava disposto, aderiu ao transporte alternativo – táxis, mototáxis, ou até mesmo o transporte clandestino de vans e kombis – para chegar mais cedo no trabalho. Mas, para a maioria dos passageiros, os pontos de ônibus foram um local de espera bem maior do que o usual. 
O atendente em telemarketing Joseval Carvalho relata que chegou ao ponto de ônibus às 6h, mas, depois de uma hora de espera decidiu voltar para casa e descansar, enquanto aguardava o horário do final da paralisação. Por volta das 9h, ele ainda não havia conseguido embarcar. “Só passam ônibus e kombis para a Estação da Lapa. Não serve para mim”, comentou ele, desanimado. 
A atendente em nutrição Lúcia de Jesus tinha um destino relativamente perto. Ela reside próximo ao fim de linha de Brotas, e desejava ir até o bairro de Nazaré, onde fica a unidade de saúde em que trabalha, chegando ao ponto de ônibus por volta das 5h. Após aguardar 1h30, a atendente também optou por aguardar o fim da paralisação em casa. “Fomos pegos de surpresa. Isso é inadmissível. Até compreendo a reivindicação deles, mas se forem parar a todo assalto de ônibus, a cidade vai ficar um caos todos os dias”, opinou ela, revoltada. 

Passageiros 
Pauta de muitos anos dos rodoviários, a falta de segurança nos coletivos também é reconhecida como um problema cada vez mais comum pelos passageiros. “É um problema cíclico, parece que não há solução”, comentou o vendedor Raimundo Alves, que aguardava uma linha com destino ao Cabula, em um dos pontos da Avenida Bonocô. 

O agente de saúde José Augusto Borges também reconheceu que a insegurança também se tornou um problema cada vez mais complexo. “A cada dia que passa, a impressão que temos é que está piorando, está ficando mais difícil sair de casa”, relatou ele, que, aguardava justamente a linha Trobogy-Lapa para chegar ao trabalho – a mesma que havia sido alvo dos assaltantes na última segunda-feira – e que agradece a sorte de nunca ter estado dentro de um ônibus durante um assalto. 

Aproximadamente 300 ônibus do sistema complementar foram colocados em circulação em alguns pontos da cidade. Os coletivos da região metropolitana também circularam normalmente durante o período de paralisação do transporte municipal.

Categoria pede mais segurança e melhores condições de trabalho

Durante o início da manhã, os rodoviários se reuniram para pautar as reivindicações da categoria, que já foram entregues ao sindicato patronal, e também a Secretaria de Segurança Pública (SSP). Para o presidente do Sindicato dos Rodoviários de Salvador, Hélio Ferreira, a paralisação desta quarta-feira foi bem-sucedida e cumpriu com o objetivo de unir a categoria, ao mesmo tempo em que destaca as pautas de reivindicação. 

O sindicato deu o prazo para que as empresas dos três consórcios que prestam o serviço de transporte público e a SSP dêem alguma resposta às reivindicações até a próxima segunda-feira (21). Caso não haja sinalização de acordo, a categoria diz que lançará um publicará um edital de paralisação por tempo indeterminado, podendo começar no dia 29.

Sobre a PRL, o presidente do sindicato explica que a categoria já luta pelo benefício há mais de dois anos. “Houve descumprimento do que foi acordado na última Convenção Coletiva de Trabalho, por isso queremos uma resposta objetiva das empresas, com uma reunião para discutir o valor a ser pago pelo tempo que este benefício não foi pago aos trabalhadores”. 

Em relação a segurança, o sindicato propõe a criação de um comando específico de polícia voltado aos casos de violência dentro dos ônibus, com a criação de uma delegacia, e reforço nas ações ostensivas de policiamento, a fim de evitar casos como o registrado na última segunda-feira.   

“A estatística oficial aponta que houve quase dois mil assaltos em Salvador registrados desde janeiro. Porém, estimamos que este montante pode ser bem maior, se somado aos pequenos casos de delito, a exemplo dos furtos dentro dos ônibus. Quando o passageiro é a vítima e não se leva nada do cobrador o registro não é feito”, explica Hélio Ferreira. 
Enquanto a prefeitura media o diálogo entre rodoviários e as empresas, o secretário de Mobilidade Urbana de Salvador (Semob), Fábio Motta, declarou, durante entrevista em um programa de rádio, que os concessionários serão autuados pelo tempo de interrupção do serviço. 

ASSALTO
Na última segunda-feira (14), o cobrador de ônibus Samuel Batista Feitosa, de 32 anos, foi baleado nas costas, durante um assalto à ônibus na Avenida Bonocô, por volta das 6h30. O coletivo da linha Trobogy-Lapa seguia em direção ao centro da cidade quando dois suspeitos embarcaram e anunciaram o roubo. No momento da fulga, eles dispararam contra o veículo, atingindo Samuel, que teve uma fratura no ombro, em decorrência do tiro. A vítima foi socorrida e levada ao Hospital Geral do Estado (HGE), e recebeu alta na manhã da última terça-feira (15).  

Foto: Ilustração