Dezenas de moradores do Bairro da Paz percorreram a pé cerca de 7,9 Km até a sede da Secretaria de Segurança Pública (SSP), no Centro Administrativo da Bahia (CAB), para tratar das investigações do assassinato de dois jovens na madrugada do último domingo, 19. Além disso, eles reivindicaram também mais segurança e melhor atendimento à comunidade por parte de alguns policiais que atuam na Base Comunitária de Segurança (BCS). Eles saíram do bairro a caminho da SSP por volta das 7h40 da manhã desta quinta-feira, 23. Todos usavam camisetas brancas estampadas com a foto dos jovens mortos. Os pais das vítimas foram recebidos por integrantes da SSP e da Corregedoria da Polícia Militar.
“Isso aqui não é protesto. É um grito de socorro da comunidade do Bairro da Paz. Essa é a única maneira que a gente tem de fazer isso [indo para a frente da secretaria]. Se a gente for fazer ato no bairro, a Rondesp chega, outra viaturas chegam”, afirmou o segurança Noelson Nascimento, de 40 anos. “No protesto que fizemos na segunda-feira, 20, um PM colocou uma viatura sobre uma faixa que estendemos no chão”, completou.
Os moradores também se posicionaram contra a versão de que os jovens assassinados eram envolvidos com o tráfico de drogas. “Se fossem bandidos, não haveria tantos pais e mães de família aqui”, afirmou a vendedora Mariana Oliveira Conceição, 33. “A gente é oprimida no bairro pela polícia”, completou.
“Houve comentários de que a gente estava aqui para pedir a retirada da Base Comunitária, mas isso não é verdade. O que a gente quer é mais policiamento”, afirmou o eletricista Miguel Pereira da Silva, 46.
Miguel é pai do também eletricista Michael de Jesus Silva, 21, um dos jovens mortos no bairro no último domingo. O outro jovem foi Rafael Oliveira Miranda, 17. De acordo com ele, ainda não se tem a certeza de que os rapazes foram mortos durante uma ação de policiais militares, como foi divulgado anteriormente. Miguel contou que o filho e Rafael foram levar um amigo em casa, quando foram abordados por dois homens encapuzados que estavam em um carro preto da Peugeot. “Não temos certeza se eram policiais. Nem o rapaz que sobreviveu sabe dizer. Ele disse que eles foram abordados, colocaram as mãos para cima, foram revistados e depois os caras atiraram”, contou Miguel. “O bairro tem muitas câmeras de segurança. O que eu espero da Secretaria de Segurança Pública é que busque nas imagens dessas câmeras se há registros desse carro”, completou o pai de Michael. O veículo foi visto circulando pelo bairro vários dias antes do crime. Mas, após o assassinato dos rapazes, ninguém mais o viu, conforme relatou Miguel.
Em nota, a SSP informou que já foram solicitadas imagens das câmeras de vigilância de casas comerciais localizadas próximo ao local do crime e busca identificar os envolvidos no assassinato. O caso é investigado pela Departamento de Homicídios (DHPP), onde oito pessoas já foram ouvidas. “A população pediu um estreitamento nos laços entre as unidades policiais que atuam no bairro e os moradores”, conta o major PM João Maurício Botelho, em nota divulgada pela secretaria.
Reprodução: A Tarde