Após reunião de cerca de duas horas nesta terça-feira, 30, a bancada do PMDB no Senado decidiu que o líder Renan Calheiros (PMDB-AL) continuará no cargo. Sem votação, os integrantes do partido fizeram um acordo simbólico para manter Renan na liderança, desde que ele não faça mais comentários contra as medidas econômicas do governo em nome da bancada.
Cotado para substituir Renan, o senador Raimundo Lira (PMDB-PB) disse que o senador concordou em não falar mais sobre as reformas trabalhista e previdenciária como líder. Nestes casos, avaliados como “temas de discordância”, os vice-líderes do PMDB vão se pronunciar: Kátia Abreu (TO), aliada de Renan, e Valdir Raupp (RO). “Os vice-líderes estão aí para falar pela bancada quando Renan não concordar”, explicou Lira.
Segundo um dos aliados de Renan, Hélio José (PMDB-DF), não houve votação durante a reunião, como estava previsto, e a decisão pela permanência foi consensual. “Se a posição da maioria for a favor da reforma trabalhista, por exemplo, Renan não vai de manifestar”, declarou Hélio.
Aproximação
Às vésperas da reunião da bancada que poderia retirá-lo da liderança do PMDB do Senado, Renan distribuiu afagos a Michel Temer e à bancada do partido. Em discurso na tribuna da Casa, ontem, o alagoano poupou o governo de suas críticas recorrentes e preferiu cumprimentar o presidente.
“Cumprimento o presidente Michel Temer pela nomeação de um ministro da Justiça digno do nome, que pode exercer nesse momento difícil papel de interlocução na vida nacional”, afirmou em referência a recente nomeação de Torquato Jardim para a pasta da Justiça.
Renan também agradeceu a visita de Michel Temer ao seu Estado. “Agradeço ao presidente da República por sua ida a Alagoas num momento em que os alagoanos se desesperavam com a enchente. Acredito que a significativa visita terá um desdobramento satisfatório para corrigir injustiças contra o povo alagoano”, disse.
Hoje, em mais um gesto de aproximação com o governo, o líder do PMDB disse que a maior “demonstração do seu bom senso” com relação ao presidente Temer foi não criticar a indicação do ex-ministro da Justiça Osmar Serraglio para o Ministério da Transparência ontem. Serraglio acabou recusando o cargo nesta terça.
Há cerca de três meses, Renan já havia criticado a escolha de Serraglio para a pasta da Justiça, por considerar que ele é um dos aliados do deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso em Curitiba. Segundo ele, Cunha chantageava o presidente Temer. “Em que outra circunstância o Osmar seria ministro da Justiça?”, questionou o alagoano na época.
Apesar de buscar aproximação com o Planalto, Renan continua atuando nos bastidores ao lado da oposição contra a reforma trabalhista no Senado. Mais cedo, ele esteve na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), onde o relator Ricardo Ferraço (PSDB-ES) realizava a leitura do seu parecer, para contar os votos contrários ao projeto.
Estadão Conteúdo