Terminou no domingo (9), após seis dias de trabalho de peritos da Polícia Federal e do Instituto de Criminalística do Pará, a reconstituição de dez mortes durante uma operação policial em Pau D’ Arco, no sudeste do Pará. No fim deste mês de julho deve ser divulgado o laudo da perícia feita nas armas dos policiais e nas que foram apreendidas durante a operação. Já o resultado da reconstituição pode demorar até três meses para ficar pronto.
A chacina de Pau D’Arco, como o crime ficou conhecido, aconteceu no dia 24 de maio, na fazenda Santa Lucia. Um grupo de policiais civis e militares foi até a fazenda para dar cumprimento a mandados de prisão de suspeitos de envolvimento na morte de Marcos Batista Ramos Montenegro, um segurança da fazenda que foi assassinado no dia 30 de abril.
De acordo com a polícia, os assentados tinham um arsenal de armas de fogo e reagiram à presença dos policiais. Houve troca de tiros, que resultou nas mortes. Mas, familiares das vítimas e sobreviventes alegam que a ocupação da fazenda era pacífica, que os policiais chegaram de forma truculenta e atiraram sem provocação.
Segundo a Comissão de Direitos Humanos da Alepa, no dia em que os posseiros foram mortos, policiais envolvidos na operação retiraram os corpos antes que perícia fosse realizada.
Perícia
A Polícia Federal realizou a reconstituição para levantar o que ocorreu na fazenda Santa Lucia. Sessenta atores participam da reconstituição, considerada a maior reprodução de crime já realizada pelos policiais do Pará. Além dos atores, uma equipe de peritos criminais federais de Belém e Brasília, Policiais Civis e Militares e técnicos do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves também acompanham a reconstituição.
Sobreviventes disseram que os posseiros foram executados. Policiais que participaram da operação afirmaram que houve confronto.
A perícia feita nos corpos concluiu que nove posseiros foram baleados no peito e uma mulher atingida na cabeça com um tiro à queima-roupa. Ainda segundo os peritos, não havia marcas de bala nos coletes dos policiais.
Outra morte
Na sexta-feira (7), o agricultor Rosenilton Pereira de Almeida foi assassinado no município de Rio Maria, no sul do Pará. A Polícia Civil disse que está investigando se o assassinato de Rosenilton tem ligação com as mortes dos dez posseiros na fazenda Santa Lucia.
Segundo a Comissão Pastoral da Terra, Rosenilton liderava um grupo de camponeses que voltou a ocupar a fazenda há quinze dias. Testemunhas disseram que dois homens em uma moto abordaram Rosenilton quando ele saía desta igreja. Ele foi assassinado com quatro tiros.
Direitos humanos
O Governo do Pará disse em nota que, a princípio, não foi vista nenhuma relação entre o assassinato de Rosenilton e as mortes ocorridas em Pau D'Arco, mas a conexão entre os crimes não está descartada, pois a vítima integrava o grupo que invadiu a fazenda Santa Lúcia.
Segundo uma nota pública divulgada no sábado (8) por entidades ligadas aos direitos humanos, Rosenilton havia deixado a Fazenda Santa Lúcia horas antes de ser assassinado, porque estava sendo ameaçado e perseguido na região.
No documento, as entidades pedem que o governo federal e o do Pará adote medidas efetivas para garantir a vida e a integridade das trabalhadoras e trabalhadores rurais acampados da Fazenda Santa Lúcia, bem como garanta uma investigação isenta e rigorosa da chacina dos 10 de Pau D`Arco e da morte de Rosenilton.
Reprodução/G1