Um levantamento inédito feito por cientistas brasileiros e britânicos revela que a caça na Amazônia dizimou 23,3 milhões de mamíferos e répteis, de ao menos 20 espécies, nas primeiras seis décadas do século XX. O estudo, publicado nesta quarta-feira no periódico científico Science Advances, revela que os animais foram caçados por suas peles e muitas populações, em especial as aquáticas, ainda não se recuperaram.
Segundo o estudo, um trabalho de fôlego feito por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), em Manaus, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Universidade East Anglia, na Inglaterra, e outras instituições, houve dois períodos de picos da caça, durante a II Guerra Mundial e nos anos 1960. O primeiro foi impulsionado pela chegada de grandes levas de trabalhadores para a exploração da borracha que, com a queda dos preços após 1912, precisou substituir o látex pelo comércio de peles e passou a exportar o produto para Estados Unidos, Europa e a vendê-lo para o Sul do Brasil. Já a caça durante os anos 1960 esteve voltada para a indústria da moda. Entre 1930 e 1960, os dez animais mais explorados renderam lucros de cerca de 500 milhões de dólares. Em 1967, a caça foi oficialmente banida no país, mas os estoques permaneceram sendo explorados até 1969.
Espécies caçadas
Para chegar aos dados, os pesquisadores buscaram registros de entrepostos comerciais, documentos portuários e relatórios comerciais que estavam esquecidos em bibliotecas e repartições públicas brasileiras. Segundo a análise, as espécies mais procuradas para o comércio eram o caititu (uma espécie de porco selvagem), jacaré-açu, capivara, onça-pintada, peixe-boi, ariranha e lontra. Devido à caça, algumas das espécies aquáticas, como a ariranha, estão extintas em diversas regiões.
Isso acontece, principalmente, porque as florestas são de difícil acesso e funcionam como esconderijo para os animais terrestres – a maior parte da população amazônica se concentra nas margens dos rios que, abertos, oferecem um ambiente sem obstáculos à caça. A descoberta, de acordo com os pesquisadores, pode ajudar a delinear projetos de conservação das espécies.
“Propomos que a relativa capacidade de adaptação das espécies terrestres sugere uma grande oportunidade para gerenciar, em vez de criminalizar, a caça tradicional de subsistência na Amazônia, por meio de programas de conservação, com base científica, que reúnam também os habitantes locais”, afirmam os pesquisadores no estudo.
Fonte: Veja