A enfermeira Ana Paula Santana, de 45 anos, denunciou uma colega de trabalho por racismo. A situação aconteceu na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no bairro Phoc II, em Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, no dia 21 de dezembro.
De acordo com a vítima, não havia nenhum tipo de desentendimento anterior entre as duas. No entanto, segundo relatado, a colega começou a se dirigir a ela de maneira agressiva e com expressão facial fechada: “Ela disse que eu era escrava dela, que deveria estar no tronco tomando chibatadas e já que estou aqui [na UPA], deveria trabalhar por ela e por mim, nem deveria descansar, sendo que ela é enfermeira igual a mim e ainda disse que eu não deveria nem tomar banho”.
A enfermeira Ana Paula informou que procurou a coordenação da UPA para denunciar o ocorrido e, de acordo com ela, a gestora da unidade não tomou providências. “A coordenadora colocou para trabalhar com ela depois do caso, mesmo sabendo da situação”, afirmou Ana Paula.
Além disso, a coordenadora não teria buscado um diálogo formal sobre o ocorrido, apenas mencionado no corredor que a suspeita havia “confessado o que falou”. O informado foi de que “chamaria a colega para conversar”. “Eu pedi o relatório com a confissão da colaboradora, mas ela disse que não me daria, era para eu procurar os meus direitos”, frisou a denunciante.
Sentindo-se vulnerável e sem o apoio necessário, Ana Paula formalizou a denúncia na 18ª Delegacia Territorial acompanhada de um advogado. Confira abaixo trecho do relato registrado no boletim de ocorrência.
Trauma
O caso gerou um grande impacto na profissional, que relatou estar com muito medo de retornar ao trabalho. “Ainda estou em casa, com muito medo de ir para o trabalho e ter que lidar com a situação”, desabafou ao portal PS Notícias.
Ana Paula também mencionou que, após o incidente, ela procurou atendimento médico, já que estava afetada emocionalmente e fisicamente pela tensão causada no ambiente de trabalho. “Eu relatei o caso para a médica, aí ela viu que eu estava muito nervosa, eu já tinha me machucado com o bisturi, aí fui pedir atendimento. Ela me atendeu e me deu cinco dias de atestado”, contou.
A enfermeira pretende retornar ao trabalho, mas alertou que, caso não se sinta bem ou segura, solicitará novo afastamento: “Se eu não me sentir bem, não me sentir segura, vou pedir afastamento de novo”.
Além disso, Ana Paula revelou que está iniciando um acompanhamento psicológico para lidar com as consequências emocionais do episódio. “Eu continuo com crise de ansiedade e não tenho condição de voltar ao trabalho, mas eu não posso abandonar se estou sem o atestado médico”.
O que diz o advogado
O advogado Mateus dos Anjos está acompanhando o procedimento na 18ª DT de Camaçari. O jurista antecipou ao PS Notícias que a suspeita e as testemunhas serão ouvidas na polícia.
“Como o crime de injúria racial foi equiparado ao racismo, há duas formas de que seja dado início ao processo. Pode ser tanto pelo Ministério Público oferecendo denúncia quanto à queixa-crime. Por ora, a gente optou em ver o relatório primeiro para entender o que o Ministério Público vai fazer, vou conversar com o promotor de justiça, mas acredito que o MP entrará com a denúncia. Ficarei como assistente de acusação do Ministério Público e, obviamente, a gente vai proceder a denúncia ao Conselho Regional de Enfermagem (Coren-BA), até porque se trata de uma profissional que pertence ao conselho da classe”, contou o advogado ao PS Notícias.
“A gente tem visto que o dona Ana Paula está passando por um processo de acompanhamento psicológico já, inclusive já vem tomando medicações e aí a gente, obviamente, não pode deixar de ingressar com a ação indenizatória”, pontuou.
O que a coordenação da UPA diz:
O PS Notícias entrou em contato com Michele Barbosa, coordenadora de Enfermaria da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Phoc II, na quarta-feira (8), para esclarecer os fatos. No entanto, a gestora alegou que “não possuía informações suficientes e não sabe da situação”.
O outro lado
Também procurada pelo PS Notícias, Cássia Poliana, que foi denunciada por racismo por Ana Paula, expressou arrependimento pelo ocorrido e pediu desculpas.
Ela contou que, em um plantão intenso na UPA, fez uma “brincadeira” que machucou Ana Paula, embora não tivesse a intenção de ofender. Cássia afirmou que o comentário foi feito em um momento de cansaço e dirigido a todas as colegas, não apenas à denunciante.
“Eu estou muito arrependida, isso não sai da minha cabeça, isso mexeu muito comigo, não estou dormindo. Eu não sou desse jeito, eu não sou uma pessoa preconceituosa do fundo do meu coração mesmo, porque Deus sabe do meu coração que eu não sou desse jeito”, garantiu.
Polícia Civil
Por meio de nota, a Polícia Civil informou ao PS Notícias que a 18ª Delegacia Territorial de Camaçari registrou uma ocorrência de injúria racial que ocorreu no dia 21 de dezembro de 2024, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Phoc II, em Camaçari.
“Segundo o boletim de ocorrência, a vítima estava de plantão na UPA, quando sua colega de trabalho proferiu palavras de cunho racista. A unidade territorial realiza oitivas e diligências para apurar todas as circunstâncias do fato”, diz o comunicado.
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