Toda Hora - Salvador FM

Entenda danos emocionais da tecnologia para as crianças

O programa Toda Hora, da rádio Salvador FM, entrevistou o psicólogo Lucas Freire

Foto: Youtube/Salvador FM
Foto: Youtube/Salvador FM

Sancionada na última segunda-feira (13) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a Lei nº 15.100/2025 veta o uso de celulares durante aulas e intervalos escolares em todas as etapas da educação básica. A proposta visa estimular as crianças e adolescentes a se concentrarem nas aulas, diminuindo as possíveis distrações, e possibilitando a interação entre eles.

No entanto, não é só na sala de aula que os celulares são prejudiciais. Desta forma, o programa Toda Hora, da rádio Salvador FM, entrevistou o psicólogo Lucas Freire, na manhã desta sexta-feira (17). Segundo ele, a tecnologia pode causar terríveis danos emocionais na infância e até na vida adulta.

“Existe uma coisa no desenvolvimento infantil chama janela neurológica. O que acontece é que em determinadas fases do desenvolvimento infantil, a gente precisa de certos estímulos para se desenvolver. Quando a tela substitui essa exploração livre da vida, está oferendo para a empresa e para os algoritmos o desenvolvimento dos nossos filhos. Hoje nós sabemos que existem quatro comprometimentos principais”, explicou.

Segundo o especialista, os principais dados às crianças com a exposição continua com a tecnologia são:

  • Privação do sono: “O sono tem o papel fundamental na construção de habilidades, no desenvolvimento cognitivo, no aprendizado, na questão do equilíbrio emocional. Então a gente sabe que crianças que usam muito a tela, tem o sono prejudicado”;
  • Atenção dividida e dificuldade de manter o foco: “É por isso que a gente vê uma dificuldade muito grande nas crianças e em muitos adultos, de se concentrar em alguma coisa”;
  • Dificuldade de desenvolvimento de habilidades sociais: “Nada substitui esse olho no olho, a leitura da expressão facial do outro. A entrada e saída dos grupos sociais da internet é muito fácil, na vida real cobra um preço. E as crianças estão deixando de aprender isso”;
  • Vício: “Hoje, com o algoritmo, existe a ‘economia da atenção’. As empresas, na verdade, estão vendendo e comprando nossa atenção. Então essa captura da atenção é extremamente baseada em mecanismos comportamentais que viciam”.

Desta forma, Lucas explica que, quando a lei entrar em vigor, haverá um momento de transição. Então é possível que as crianças fiquem mais irritadas e agressivas.

Histórico

Apesar dos riscos da exposição contínua à tecnologia estarem sendo reavaliados agora, o problema é começou nos anos 2000. Na época, as crianças costumavam brincar nas ruas e ter outras opções de divertimento, no entanto, com o aumento da violência e o excesso de trabalho dos pais, as crianças foram cada vez mais submetidas à outra realidade.

“Essa reconfiguração da infância baseada no brincar foi sendo ocupada pela tela, principalmente porque, na nossa cultura, a gente construiu uma ideia de produtividade contínua. Então, a culpa dos pais que estão ausentes e querem entreter as crianças, é substituída pelo presente. E a tela é um excelente entretenimento”, explicou o psicólogo.

Lucas explica que o fenômeno pode ser comparado com o ocorrido nos anos 70. Na época, algumas famílias davam álcool para as crianças, sem se dar conta dos riscos presentes no ato.

“Nos anos 70, algumas famílias davam álcool para as crianças beberem. Hoje a gente sabe dos danos. É um paralelo parecido. Estamos dando algo para nossos filhos, cujas consequências a gente não sabe agora. Por isso não temos uma dose correta, mas precisamos retardar, controlar, debater, compreender esse movimento. As consequências já sabemos. Um aumento brutal do adoecimento mental, transtornos de ansiedade, depressão, especialmente em jovens de adolescentes”, disse.

E em casa, como controlar?

O desejo pela tela acontece mesmo fora das salas de aula. Em momentos de lazer, envolvendo praias, piscinas e até outras crianças, é comum que o uso de celulares e tablets prevaleça.

De acordo com o especialista, apesar da dificuldade de competir com estímulos da tela, é necessário que os pais adotem algumas estratégias para que o problema não prejudique os filhos.

“Talvez o primeiro passo seja nós adultos resgatarmos os nossos direito e dever de brincar. Resgate o ser brincante e você vai entender que a criança não quer você brincando tanto tempo. Cinco minutinhos ali e ela já constrói uma brincadeira nova. O maior ativo das nossas vidas é o tempo, e esse tempo com qualidade de brincar é fundamental”, aconselhou.

Assista a entrevista completa:

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