O diretor jurídico do Grupo J&F Francisco de Assis e Silva revelou em anexo complementar de sua delação entregue à Procuradoria-Geral da República, durante negociações para fechar acordo, que o ex-ministro do Governo Temer Geddel Vieira Lima usava o apartamento funcional do irmão deputado, Lúcio Vieira Lima (PMDB/BA), em Brasília, para promover reuniões sobre propinas. A informação foi divulgada com exclusividade pelo site O Antagonista e confirmada pela reportagem do Estadão.
Assis e Silva é um dos delatores do Grupo J&F que firmaram acordo com a Procuradoria – além dele, os irmãos Joesley e Wesley Batista, principais acionistas do grupo que controla a JBS, também fizeram delação que está sob risco de rescisão porque teriam violado o acordo. Joesley e Wesley estão presos na carceragem da Polícia Federal em São Paulo desde setembro, por ordem da Justiça Federal, por acusação de uso criminoso de informações privilegiadas de suas próprias delações para auferir ganhos milionários no mercado de ações e do dólar. Geddel também está preso, na Penitenciária da Papuda, em Brasília, sob suspeita de ser o dono da fortuna de R$ 51 milhões em dinheiro vivo oculta em um apartamento no bairro da Graça, em Salvador.
No anexo complementar à Procuradoria, obtido por O Antagonista, o delator da J&F narrou detalhes de cinco reuniões com Geddel no apartamento cedido a Lúcio. Ele contou como conheceu Geddel. “No mês de abril de 2016, Joesley Batista chamou-me à sua sala e apresentou-me o entõa candidato a ministro do governo Temer, Geddel Vieira Lima”, relatou Assis e Silva. “Após o encontro Joesley me comunicou que ele (Geddel) poderia vir a ser ministro no possível governo Temer (que assumiria o Palácio do Planalto dali a um mês, com o impeachment de Dilma) e pediu que eu mantivesse contato com ele”. “Entre setembro e novembro de 2016, mantive aproximadamente cinco encontros com o então ministro-chefe da Secretaria de Governo na Presidência de Michel Temer, Geddel Vieira Lima”, narrou no anexo complementar 2. “Nos primeiros encontros, realizados em Brasília no apartamento funcional do seu irmão deputado Lúcio Vieira Lima e o qual não conheci pessoalmente, o assunto tratado foi: Lúcio Funaro, seu estado físico, estado de sua família e pagamentos realizados por Joesley para que ele se mantivesse em silêncio”. “O então ministro Geddel me perguntou se ‘Joesley estava cuidando do passarinho’. Eu perguntei sobre a estratégia de defesa e a libertação de Lúcio (Funaro). Ele me informou que o mninistro Eliseu Padilha havia sido destacado pelo presidente Michel Temer para cuidar desse assunto em favor de Lúcio”. Em outra reunião, sempre no apartamento funcional de Lúcio Vieira Lima, ainda segundo o delator, Geddel queria que ele fizesse a minuta de um projeto de anistia de ‘caixa 2’. Houve ainda, disse Assis e Silva, um encontro com Geddel em um restaurante no aeroporto internacional de São Paulo, em Guarulhos/Cumbica, em que o então ministro teria revelado preocupação com a apreensão pela Polícia Federal de dois documentos na residência do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB/RJ), preso na Operação Lava Jato desde outubro de 2016 – uma planilha de empréstimo da Caixa e outro relativo a um helicóptero.
Reprodução: Política Livre