Ontem, 16 de julho, foi o Dia do Comerciante. Uma data que, infelizmente não foi comemorada da forma como muitos profissionais da área pretendiam, já que os números deixaram a desejar. E na Bahia, a situação se mostrou mais preocupante do que a média nacional.
Com o término do primeiro semestre de 2015, a recessão econômica já mostra os estragos do qual resulta a pouca circulação do capital, principalmente na prestação de serviços. De acordo com dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), a Bahia registrou até o meio do ano, uma queda de 9,6% na receita do comércio varejista, em relação ao mesmo período de 2014 – valor que representa quase o dobro do percentual nacional, que teve um decréscimo de 4,5% em relação ao mesmo período.
Ainda segundo o SEI, até maio deste ano, os produtos que mais registram queda foi o grupo de materiais de escritório, informática e comunicação, com queda de 23,4%, seguidos pelos móveis e eletrodomésticos com 22,8%, e pelos livros, revistas e papelarias, com decréscimo de 20%. Ainda segundo o Sindicato dos Lojistas da Bahia (Sindilojas), outro efeito drástico da crise foi a diminuição de 12 mil postos de trabalho nos últimos seis meses em Salvador.
E a redução de empregos no setor tende a diminuir ainda mais, segundo explica Ailton Plínio, do Sindicato dos Comerciários. “Como não há vendas devido a ausência de clientes, cresceu também o número de avisos prévios, havendo também uma redução nos salários”.
Com o receio do consumidor em gastar, os lojistas também ficam numa corda bamba: com menos receita, não se pode aumentar o preços dos produtos já que isso espantaria mais ainda a clientela. Por outro lado, diminuir a rendimento através das promoções também oferece o risco de não conseguir manter o negócio. Para adaptar-se, o jeito é equilibrar as contas e gastar menos.
“Assistimos a tudo isso com muita preocupação, afinal estamos recebendo sinais negativos desde o início do ano, e não tivemos uma resposta à altura do Governo Federal, em termos de medidas concretas, apenas aumentos, como a da taxa de juros”, afirma o presidente do Sindilojas, Paulo Motta, prevendo uma segundo semestre igualmente difícil.
Para driblar a crise, lojas queimam estoques
Não tem sido estranho nos centros comerciais da capital, como é o caso da Avenida Sete de Setembro, encontrar vitrines com os grandes adesivos apontando promoções, liquidações, queimas de estoque. Este tem sido o modelo padrão utilizado por grande parte dos comerciários que precisam se desfazer do produto à venda para sobreviver no mercado.
No caso da Gilma Móveis, isso tem dado certo, a ponto da loja manter o mesmo funcionamento do ano passado, sem acumular prejuízos. Segundo explica a vendedora responsável, Célia Maciel, a chave é mudar o repertório assim que perceber o desinteresse do cliente.
“É preciso estar atento ao que o cliente está procurando, e investindo mais neste aspecto, assim como no atendimento. Nosso estabelecimento acaba sendo privilegiado, pois trabalha com vários segmentos diferentes, então dependendo da época do ano, é possível investir mais em um segmento”, explicou Célia.
A loja vende artigos de enxoval, móveis de casa, e também roupas de gênero infanto-juvenil. A possibilidade de mudar de produtos e fornecedores tem feito a loja sobreviver, não precisando fazer maiores adequações, nem no quadro de funcionários, que continua atendendo com seus 15 vendedores.
Contudo, outros gêneros comerciais não tiveram a mesma sorte, e continuam a passar dificuldade, a exemplo da loja de artigos femininos Use Shoes, também na região central. Segundo explica a vendedora responsável, Andrea Azevedo, a perda de receita em relação ao ano passado chega a 15%, e nem a última edição do Liquida Bahia conseguiu trazer conforto que a loja ansiava. Para evitar maiores prejuízos, o jeito foi apelar para as promoções e readequar o quadro de funcionários.
“No ano passado, tínhamos cinco vendedoras. Hoje estamos com apenas dois, sendo que um deles é estagiário. Estamos operando com promoções e descontos para quem paga à vista. No ano passado, podíamos contar com o faturamento do PIS, este ano não tivemos a mesma sorte. Além disso, tivemos aumento das contas de luz, e de salários”, relata a vendedora-chefe.
Durante a visita da equipe de reportagem, também era possível notar a total ausência de clientes, mesmo com grande variedade de produtos. Entre todos os prejuízos, um ponto positivo: as pessoas estão comprando menos com o cartão de crédito, e mais à vista – fator que, segundo Andrea tem ajudado a loja se manter, pagar os fornecedores, e as contas específicas do estabelecimento.
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