O discurso do governo em relação à segunda denúncia apresentada pelo Ministério Público contra o presidente Michel Temer, por formação de quadrilha e obstrução à Justiça, dá como certo o mesmo destino da primeira: o arquivamento. Mas, apesar do clima confiante no Planalto, aliados de Temer admitem que obstáculos podem tumultuar a votação da nova peça acusatória do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Há vários pontos a favor do governo: a reviravolta do autogrampo da delação da JBS, a retomada, ainda que lenta, do crescimento da economia, e denúncias contra nomes de PT, PP e PMDB por causa do chamado “quadrilhão”. Além disso, quanto mais perto fica do fim do mandato de Temer, menor a disposição de enfrentar uma nova troca de presidente em tão pouco tempo.
No entanto, alguns percalços que não existiam no início do mês passado agora contribuem para um mau momento de Temer junto aos deputados que irão avaliar a denúncia.
O problema mais grave é a possibilidade de uma delação do ex-ministro Geddel Vieira Lima, amigo íntimo do presidente desde a década de 1990. Os dois atuam juntos, desde o governo Fernando Henrique, comandando o grupo do PMDB na Câmara.
A descoberta do apartamento onde Geddel guardava R$ 51 milhões em dinheiro vivo acendeu o alerta no Planalto. A expectativa é que, em uma eventual delação, Geddel diga que os recursos tinham também outros donos e detalhe esquemas de corrupção de seu grupo político.
Além dessa preocupação, a crise entre partidos da base se ampliou na Câmara. O DEM do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), está em pé de guerra com o PMDB de Temer, em torno de uma disputa por quadros e alianças nos estados, já com vistas à campanha de 2018.
A briga se deu por causa da ida do senador Fernando Bezerra Coelho e do seu filho, o ministro Fernando Coelho Filho, para o PMDB. Inviabilizados no PSB, que rompeu com o governo, os dois vinham negociando o ingresso no DEM.
(OGlobo) /////AF/////