O ex-presidente do Grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, abriu nesta segunda-feira (4) a rodada de depoimentos de réus em um processo que acusa o empresário de pagar propina ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele disse acreditar que Lula sabia sobre os repasses ilegais feitos a ele, embora tenha reconhecido que nunca tratou do assunto com o petista.
De acordo com a denúncia do Ministério Público Federal (MPF), a empreiteira comprou um terreno em São Paulo para construir uma nova sede para o Instituto Lula. Os procuradores também dizem que a empresa pagou os aluguéis de um apartamento vizinho ao que o ex-presidente mora, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Apesar da a Odebrecht reconhecer que comprou o imóvel para o Instituto Lula, a obra nunca foi feita.
O interrogatório de Marcelo Odebrecht durou quase quatro horas. No depoimento, ele voltou a afirmar que o codinome "amigo", encontrado em planilhas do Setor de Operações Estruturadas da empresa, fazia referência a Lula. De acordo com ele, a planilha intitulada "Italiano", apreendida pela Polícia Federal, é referente a pagamentos não contabilizados da companhia ao ex-ministro Antônio Palocci e ao Partido dos Trabalhadores (PT).
Odebrecht disse ter afirmado ao pecuarista José Carlos Bumlai e ao presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, que debitaria o valor do terreno para a entidade da planilha Italiano. Ele disse que nunca tratou desse assunto com o ex-presidente Lula, mas acredita que o petista sabia da negociação.
"Aí outra razão pela qual eu sei que Lula sabe desse provisionamento. Eu conversei tanto com o Bumlai, quanto com o Okamotto e falei 'tudo bem, mas esse valor, seja lá qual for o forma, vai sair do valor provisionado que eu tenho do Palocci pra Lula'", disse. O empresário disse que conversou com Palocci a respeito do assunto e que, segundo o ex-ministro, a ideia tinha sido do advogado Roberto Teixeira, que defende Lula.
Marcelo Odebrecht também disse que fazia os pagamentos a Lula por considerá-lo uma pessoa influente, mesmo depois de deixar a presidência. "Eu sabia, junto com Palocci, meu pai, que ia ter demandas do presidente Lula, ele é uma pessoa que continuaria sendo influente. (…) A gente sabia que ele inclusive tinha influencia a uma pessoa que era uma incógnita pra gente, que era a Dilma. Então de certo modo o que a gente fez foi pegar esse saldo, que deixava de ser da presidência, e passar um saldo pra atender as demandas dele. Pq senão, na pratica o que aconteceria, se eu não tivesse reservado esse saldo passaria, entre aspas, a ser da Dilma e ele continuaria a ter as demandas e a gente pagaria duas vezes. ", afirmou.
Executivos eram apelidados de 'padrinhos'
Em outro ponto do depoimento, Odebrecht explicou como era a relação da empresa com políticos. Segundo ele, cada político ou funcionário do alto escalão da Petrobras se reportava sempre ao mesmo executivo, que era apelidado dentro da empresa como padrinho.
"Lula, era o meu pai. Aécio, era eu. Eduardo Campos, era eu. Dilma, era eu. Ou seja, dentro de casa, cada político tinha um padrinho e nada se acertava em relação a determinada pessoa, mesmo por outro negócio, se não fosse alinhado, comunicado a esse padrinho interno, é uma coisa interna nossa", explicou.
Outro lado
Em nota, a defesa do ex-presidente Lula disse que ele jamais recebeu a propriedade ou a posse de qualquer um dos imóveis indicados pelo MPF, muito menos em contrapartida de qualquer atuação em contratos firmados pela Petrobras. Os advogados também falaram que jamais houve relação de apadrinhamento entre o Lula e Emilio Odebrecht ou qualquer empresário.
Os advogados de Palocci afirmaram que o depoimento de Marcelo Odebrecht esclareceu que o ex-ministro teve participação pequena na aquisição do terreno e que, por isso, não participou de nenhum ato de lavagem de dinheiro, nem de corrupção.
A assessoria da ex-presidente Dilma Rousseff disse que ela não vai se manifestar.
A defesa de José Carlos Bumlai afirmou que só vai se manifestar depois que tiver ciência do conteúdo do depoimento.
O presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, afirmou em nota que a entidade nunca comprou, usou ou recebeu qualquer terreno da Odebrecht.
Os advogados de Roberto Teixeira de de Aécio Neves não foram encontrados para comentar o caso.
Reprodução/G1