Na tentativa de barrar a denúncia contra ele na Câmara, o presidente Michel Temer tem adotado a estratégia de ligar para deputados indecisos para convencê-los a votar a favor do governo. As ligações ocorrem no intervalo entre eventos públicos e a agenda interna do presidente.
A votação está marcada para a próxima quarta-feira (2). O plenário da Câmara vai decidir se a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) que acusa Temer de corrupção passiva deve ou não seguir para o Supremo Tribunal Federal (STF). O Palácio do Planalto quer o arquivamento do caso.
Nas ligações para os deputados indecisos, segundo aliados do presidente, Temer se explica, se defende, e tenta convencê-los a sepultar a denúncia. Ele também tem feito apelo para que os deputados leiam a peça de defesa feita por seus advogados.
Agenda positiva
Na busca por aliados, Temer intensificou também o ritmo de reuniões com políticos e eventos públicos com anúncios de repasses de verba governamental para obras e projetos. A ideia é consolidar uma agenda positiva para o Palácio do Planalto.
Nesta terça (25), ele prometeu ajudar as escolas de samba do Rio de Janeiro, um agrado à bancada fluminense. Temer recebeu os presidentes das escolas e, logo depois, ao dar posse à Sérgio Sá Leitão no Ministério da Cultura, pediu que o novo ministro atenda as agremiações, que querem R$ 13 milhões para o desfile do grupo especial do ano que vem.
Mais tarde, em outra cerimônia, Temer fez um aceno aos estados e municípios. Ao lançar o programa de revitalização da indústria mineral brasileira, anunciou que a cobrança de royalties da mineração vai passar a ser feita sobre a receita bruta das empresas, e não mais sobre o faturamento líquido.
A medida deve aumentar a fatia de recursos distribuída para as prefeituras e governos estaduais. A estimativa do governo é arrecadar e distribuir 80% a mais.
Contagem de votos
Nas contas do governo, o número de indecisos já diminuiu. Mesmo assim, o trabalho de convencimento vai continuar nos próximos dias. O vice-líder do governo na Câmara, Beto Mansur (PRB-SP), disse que está prevista, ainda para esta semana, uma reunião do governo com líderes da base no Congresso para conversar sobre a votação do dia 2.
"Esse número reduziu de oitenta para sessenta indecisos. Nós vamos nos reunir na quinta ou sexta-feira com as lideranças dos partidos, com o presidente Michel Temer, com o líder do governo, com o líder do Congresso, para que a gente possa fazer uma análise mais apurada e ter certeza do número, para que a gente possa entrar no plenário no dia 2 de agosto e votar", afirmou o deputado.
A oposição também disse que está afinando a estratégia a ser adotada em plenário. A aposta dos rivais de Temer é que a pressão popular sobre os deputados – com a sessão transmitida pela TV – pode fazer parlamentares aliados do presidente mudarem de posição.
"Nós achamos que eles vão ser constrangidos numa situação em que o governo tem um alto grau de impopularidade. Portanto, nós acreditamos que muitos da base vão votar pelo afastamento de Michel Temer", afirmou o líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP).
Reprodução/G1