Os partidos que formam o chamado “Centrão” – PP, PR, PRB, PSD e PTB – conseguiram dar 100% de seus votos na última quinta-feira, 13, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) contra a admissibilidade da denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR) que acusa o presidente Michel Temer de corrupção passiva, mas dificilmente o mesmo cenário se repetirá no plenário da Câmara. Aliados do governo admitem focos de resistência em suas bancadas para votar a favor do governo, inclusive no PMDB, mas esperam que a dissidência seja mínima na votação que definirá o futuro de Temer em agosto.
Juntos, PMDB, PR, PTB, PSD, PRB e PP admitem que aproximadamente 30 parlamentares podem votar contra o governo. O PSD tem o maior número de votos contra o governo até o momento (7), PMDB e PR contabilizam seis votos. Nesse grupo de dissidentes estão os excluídos da CCJ Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), Delegado Waldir (PR-GO), Esperidião Amin (PP-SC), João Campos (PRB-GO), além dos deputados Tiririca (PR-SP) e Irajá Abreu (PSD-TO), filho da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO). “A oposição grita, mas a maioria é governo”, minimizou o líder do PTB, Jovair Arantes (GO).
No plenário, a oposição acredita que pode conquistar os votos desses partidos que fecharam questão contra a denúncia. Na avaliação dos oposicionistas, metade das bancadas do PSD, PP e PRB é suscetível a traição. O bloco vislumbra que poderia convencer um terço das bancadas do PR e do PTB.
Ainda na contabilidade da oposição, a maioria do PSDB, do PPS e do PSB também devem caminhar para aprovar a denúncia. No PSB, por exemplo, dos 36 deputados da bancada, pelo menos 24 devem apoiar a admissão do pedido da PGR.
No PMDB, partido do presidente Michel Temer, dos 62 parlamentares da bancada, o líder Baleia Rossi (SP), afirma que 90% da bancada seguirá o fechamento de questão determinado pela Executiva nacional e votará contra a denúncia. Baleia sabe que não terá os votos de Jarbas Vasconcelos (PE) e Zveiter. “Vamos trabalhar para que a bancada vote unida”, disse Baleia. A oposição conta com os votos de Pacheco, de deputados ligados ao senador Roberto Requião (PMDB-PR) e de parte da bancada do PMDB fluminense.
A oposição, porém, reconhece que ainda não tem os 342 votos necessários para aprovar a admissão da denúncia em plenário, mas conta com a ampliação do número de dissidentes nos próximos dias. A expectativa é que as possíveis delações do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do corretor Lúcio Funaro tragam fatos novos e capazes de abalar a base governista. “Isso terá peso nas coisas”, avaliou o deputado Júlio Delgado (PSB-MG). Os oposicionistas contam também com a pressão das bases sobre os parlamentares, que estarão de férias nos próximos dias e em contato direto com o eleitorado.
Os governistas conseguiram derrotar o parecer do deputado Sérgio Zveiter (PMDB) por 40 votos a 25, houve apenas uma abstenção do presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG). Após mudanças na composição do colegiado, PRB, PTB, PR, PSD, PP, PSC e PROS votaram em peso contra a denúncia da Procuradoria Geral da República (PGR). PHS e PV, que no plenário devem ter posicionamento diferente, também votaram contra o parecer do deputado Sérgio Zveiter (PMDB-RJ).
No atual cenário, sem delações bombásticas, os governistas dizem que a oposição está longe de atingir os 342 votos e que não há margem para ampliação do número de traições. O argumento é que, apesar das denúncias, os deputados estão se convencendo de que as acusações contra Temer são inconsistentes e que os indicadores econômicos são positivos. “Há um crescimento de votos à favor do presidente”, comentou o líder do PSD, Marcos Montes (MG).
Os governistas não querem sequer traçar um cenário com as denúncias de Cunha e Funaro. “Cada dia com sua agonia”, resumiu o líder do PR, Zé Rocha (BA).
Estadão Conteúdo