O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) concluiu o inquérito que apura a morte da menina Mirella do Carmo Barreto, de 6 anos, ocorrida em 17 de março deste ano, em São Caetano. O soldado PM Aldo Santana do Nascimento, da 9ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Pirajá), foi indiciado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, mas a pessoa que faz o disparo assume o risco. O inquérito, que dependia de resultados de pericias, já foi encaminhado ao Ministério Público (MP), em 30 de junho. Nele, o exame de micro comparação balística revela que o projétil encontrado no corpo da vítima saiu da arma utilizada pelo PM, uma pistola ponto 40, que foi entregue para perícia. Na noite da morte da menina, o PM teria atirado para o alto, por volta das 21h30, em sinal de advertência, durante uma diligência policial na Rua Gomeia, onde a menina residia.
Na ocasião da morte, moradores e PMs contam ao CORREIO que os policiais estavam em busca de um celular que tinha sido roubado no bairro. A divergência é justamente no que levou ao desfecho trágico: a polícia alega que, ao chegar na comunidade, foi recebida com tiros. Segundo a PM, inclusive, a guarnição era da 9ª Companhia Independente (Pirajá). Enquanto isso, os moradores afirmam que não houve tiros. Pelo contrário: houve truculência desnecessária. Mirela era filha única da auxiliar de serviços gerais Neide Barbosa e do segurança Robenilton de Jesus Barreto. Como toda criança de seis anos, era uma menina alegre e brincalhona. “Só fazia ‘pintar’, como toda criança”, contou na ocasião da morte o despachante Jorge de Jesus, 60, amigo da família e morador da região. A garota não costumava ficar na rua. “Era da escolinha para casa. Tanto era que aconteceu em casa”, contou na ocasião a tia-avó de Mirela, Marinalva dos Santos, 58.
Segundo os moradores, a atitude dos PMs que deveriam fazer a segurança da região é tudo, menos para dar segurança. Na noite de sexta, a situação teria sido parecida. “Eles chegaram lá, só vi ‘pá, pá, pá, pá’ (barulho de tiros). Pareciam uns doidos e parece que só quem mora lá (na Gomeia) é cachorro. Periferia é isso mesmo. Nem em casa a gente pode ficar mais”, desabafou Jorge. O sepultamento da criança foi marcado por pedidos de ‘justiça’. O pai e a mãe de Mirela estavam à base de remédios. Abalada, a avó da menina passou mal e precisou ser carregada por algumas pessoas presentes. Em meio ao choro dos adultos, um grupo de crianças segurava cartazes com dizeres como “Saudades eternas”, “Luto – Mirela” e “Queremos justiça”.
Reprodução: Correio 24 horas