Política

Centrão quer que Temer dê ultimato no PSDB para votar com o governo ou abandonar ministérios

Apenas dois tucanos votaram a favor do presidente na CCJ

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O centrão pressiona o presidente Michel Temer a dar um ultimato no PSDB para que assuma uma posição definitiva: de se manter no governo ou abandoná-lo de vez. A birra desses partidos, que foram os que garantiram ao presidente a vitória na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), é que enquanto alguns deputados sofrem o desgaste de votar contra a denúncia de Temer, os tucanos se dão ao luxo de fazerem discurso contra o governo, enquanto mantêm quatro ministérios. Na quinta-feira, na CCJ, apenas dois, dos sete tucanos que integram a comissão, votaram para rejeitar a denúncia.

— O PSDB que faça sua "DR", se resolva e diga se fica ou se não fica. Tem gerado uma insatisfação muito grande em partidos como PR, PSD e o próprio PRB avaliando fechar questão, e o PSDB fazendo discurso contra. O espaço no governo tem que ser proporcional ao número de votos. Não dá para ter um partido com quatro ministérios e metade de seus deputados votando contra o governo. Se essa situação continuar, a tendência é perder apoios em outros partidos — pontua Beto Mansur (PRB-SP).

Na contabilidade do governo, o PSDB, que tem 46 deputados, entregará 25 votos contra a denúncia no plenário, cuja votação está prevista para o dia 2 de agosto. O número diverge da contabilidade interna do partido, que diz que apenas entre 15 e 17 deputados votarão pela rejeição da denúncia. O líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), afirma que cabe ao presidente Michel Temer decidir sobre os espaços no governo, mas mantém que é majoritária na bancada tucana a posição de que as acusações contra o presidente devem ser investigadas.

— Só espero que o governo não crie constrangimentos para o PSDB, que não se incomode de o partido votar livremente como acha que deve votar — diz Tripoli.

O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), que já defendeu que a legenda escolhesse abandonar os “cargos confortáveis”, reafirma que o presidente Michel Temer tem liberdade para fazer o quiser com os ministérios.

— Os cargos pertencem ao presidente da República, não aos partidos — afirma Cássio.

Há no partido, porém, uma percepção de que dificilmente Temer irá promover uma limpa nos quatro ministérios hoje ocupados pelo PSDB. Isto porque a consequência imediata de um gesto como este seria, segundo dirigentes tucanos, a perda do apoio daqueles que ainda se mantêm ao lado do governo. O ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes, por exemplo, é um dos mais enfáticos defensores da permanência do PSDB na base aliada.

E isto teria um reflexo direto na votação da denúncia contra Temer no plenário da Câmara. Votos que hoje são computados como contrários à denúncia poderiam migrar para o lado dos favoráveis, que hoje são maioria na legenda. Além disto, lembram parlamentares do partido, esta é apenas a primeira batalha que o presidente da República precisa vencer para se manter no cargo até 2018. Há expectativa de apresentação de novas denúncias por parte do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e de outras adversidades no caminho, como as delações do deputado cassado Eduardo Cunha e do doleiro Lúcio Funaro.

— Não acredito que o presidente vá tirar os cargos do PSDB, porque senão vai perder os votos que ainda tem no partido. O Palácio do Planalto tem que saber em quê condições vai sair desta batalha, porque outras virão mais à frente. Se sair muito ferido desta, pode acabar perdendo a guerra — afirma um parlamentar do partido.

Há uma aposta de que, com o recesso do Congresso, os ânimos no partido e no governo esfriem e o assunto desembarque deixe de ser o protagonista. Para alguns integrantes da cúpula tucana, a tendência é que, até o início de agosto, quando os trabalhos congressuais serão retomados, os parlamentares do PSDB se recolham em suas bases e arrefeça a pressão pela saída da base de apoio ao governo.

Reprodução: O Globo