A empresária Mônica Moura relatou em delação premiada a procuradores da República que, no final de 2014, a então presidente Dilma Rousseff manifestou a ela preocupação com o avanço da Operação Lava Jato sobre a empreiteira Odebrecht e o risco de que fosse descoberta uma conta na Suíça do casal de marqueteiros da campanha (a própria Mônica Moura e João Santana).
De acordo com a investigação da Operação Lava Jato, parte dos pagamentos pelos serviços prestados nas campanhas eleitorais de Dilma era feita de forma ilícita pela Odebrecht por meio de depósitos na conta do casal em um banco suíço.
O relato de Mônica Moura está gravado em vídeo divulgado nesta sexta-feira (12), um dia depois de o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), ter retirado o sigilo das delações dos dois marqueteiros.
Em nota, a assessoria de Dilma Rousseff afirmou que João Santana e Mônica Moura "prestaram falso testemunho" e "faltaram com a verdade" (leia íntegra da nota ao final desta reportagem). "João Santana e Monica Moura prestaram falso testemunho e faltaram com a verdade em seus depoimentos, provavelmente pressionados pelas ameaças dos investigadores", diz a nota.
Segundo Mônica Moura, ela estava em férias em Nova York, junto com Santana, após a campanha de 2014 que reelegeu Dilma, e recebeu um telefonema do então ministro da Comunicação Social, Edinho Silva. De acordo com a empresária, o ministro disse que a então presidente necessitava falar com ela "com urgência".
A empresária disse ter argumentado que voltaria em uma semana ou dez dias, mas Silva teria insistido: "Não, não não, ela quer falar com você já". Diante do apelo, Mônica Moura disse que pegou um avião à noite, desembarcou pela manhã em São Paulo e, de lá, para Brasília. Afirmou que o assessor especial de Dilma, Giles Azevedo, foi buscá-la no aeroporto no próprio carro e a levou para o Palácio da Alvorada.
"Quando eu subi, a presidente estava me esperando já. Conversamos no jardim, passeando no jardim, só eu e ela. Giles não estava, quando ela disse na conversa que ela estava muito preocupada porque a operação estava avançando muito, na Odebrecht principalmente, e como a Odebrecht tinha pago a campanha dela… Desde 2010 que ela sabia que a gente tinha conta na Suíça, ela sabia de tudo isso", declarou aos procuradores.
Segundo Mônica Moura, Dilma quis saber se a conta do casal na Suíça era protegida e disse à marqueteira que a suposta conta na Suíça do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), já tinha sido descoberta e que "iam pegar o Cunha".
"Eu falei pra ela: presidente, protegida, protegida, não sei. Como lhe falei, eu tenho conta como offshore, enfim… a conversa foi nesse teor", disse a marqueteira. Segundo ela, em razão da descoberta da conta de Cunha, a preocupação dela era "que não descobrissem a nossa, a do João, que é óbvio, tinha uma ligação com ela, que tinham as campanhas que a Odebrecht fazia na nossa conta".
Segundo Mônica Moura, Dilma tinha recebido as informações do então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. "Ela sempre me falou que o José Eduardo sabia dos próximos passos. Na época eu achava que o ministro da Justiça sabia mesmo, tinha todas as informações, por ser chefe da Polícia Federal. Mas ela nunca me disse nada como era. Só dizia: 'o José Eduardo tá avisando aí'", afirmou.
Mônica Moura afirmou que Dilma disse necessitar de um canal de contato permanente com ela, que as duas não podiam conversar por telefone. "Criei um formato que eu sugeri a ela, de a gente fazer um e-mail, no Google, um e-mail desses Google, que nós duas teríamos a senha desse e-mail, era como se fosse um e-mail das duas", declarou.
Segundo a marqueteira, o contato por esse e-mail era feito depois que ela recebesse alguma mensagem pelo aplicativo WhatsApp de Giles Azevedo ou de Anderson Dornellles, outro assessor de Dilma. Ela exemplificou o tipo de mensagem: "Tá passando um filme muito legal, você tem que ver, ou então, descobri um vinho maravilhoso, vocês precisam provar".
"Quando eu recebia um recadinho assim, eu já abria esse email. E tinha algum recadinho dela", afirmou. Indagada por um dos procuradores, ela disse que não tinha mais os recados dos assessores por WhatsApp porque apagava todos.
Nota da assessoria de Dilma
Leia íntegra de nota da assessoria da ex-presidente Dilma Rousseff:
Sobre os depoimentos sigilosos de João Santana e Monica Moura, liberados na tarde desta quinta-feira, 11 de maio, a Assessoria de Imprensa de Dilma Rousseff destaca:
1. Infelizmente, chega tarde a decisão do relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, ministro Edson Fachin, suspendendo o sigilo dos depoimentos de João Santana e Monica Moura.
2. Há semanas, a defesa da presidenta eleita Dilma Rousseff havia feito tal pedido ao Tribunal Superior Eleitoral, a fim de apresentar suas alegações finais ao relator do caso das contas de campanha, ministro Herman Benjamin.
3. A defesa foi prejudicada pela negativa do relator. Não foi possível cotejar os depoimentos prestados pelo casal à Justiça Eleitoral e na Lava Jato.
4. As contradições e falsos testemunhos foram vislumbrados, apesar disso, pelo que foi divulgado amplamente pela imprensa, na velha estratégia do vazamento seletivo dos depoimentos – uma rotina nos últimos tempos.
5. Agora mesmo, os depoimentos são entregues à imprensa, mas não repassados oficialmente à defesa da presidente eleita.
6. Dilma Rousseff, contudo, reitera o que apontou antes: João Santana e Monica Moura prestaram falso testemunho e faltaram com a verdade em seus depoimentos, provavelmente pressionados pelas ameaças dos investigadores.
7. Apesar de tudo, a presidente eleita acredita na Justiça e sabe que a verdade virá à tona e será restabelecida.
Reprodução/G1