Brasil

Maior furto de livros raros no país, na UFRJ, foi feito 'aos poucos', diz PF

Suspeito de ação pode ter lucrado R$ 1 milhão

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 src=A Polícia Federal abriu inquérito para investigar o furto de 303 livros raros da Biblioteca Pedro Calmon, antiga Biblioteca Central da Universidade do Brasil, que pertence à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A suspeita é de que os furtos aconteceram aos poucos, durante o ano passado, no que é considerado o maior crime do tipo já registrado no país. A notícia foi publicada pelo jornal "Estado de S.Paulo" e confirmada ao G1.

Até esta quinta-feira (4), apenas três publicações haviam sido recuperadas pela polícia. As obras estavam sendo levadas por um intermediário, de avião, para a Europa – o nome dele não foi divulgado.

Os policiais suspeitam que o articulador dos crimes seja Laéssio Rodrigues de Oliveira, de 44 anos – já preso no sistema penitenciário do Rio por outros crimes.

Investigadores contam que, por furto, Laéssio lucraria pelas encomendas entre R$ 500 mil e R$ 1 milhão – o maior valor, pela dimensão da ação, teria sido pago pelo furto na UFRJ. As obras seguiriam para colecionadores na Argentina, Uruguai, Portugal e Itália.

De acordo com investigações, entre as obras levadas da UFRJ, há:

16 volumes dos "Sermões", do Padre Antônio Vieira (1610);
141 fotos de indígenas da região do Rio Japurá, tiradas entre 1903 e 1905;
o "Expédition dans les parties centrales de l’Amérique du Sud" (1850-1859), do naturalista inglês Francis de Castelnau, com centenas de litografias pintadas a mão;
os quatro volumes de um livro do etnógrafo alemão Thomas Koch-Grümberg, pioneiro da fotografia antropológica;
parte da coleção Brasiliana do acervo, composta por livros de viajantes europeus que registraram flora, fauna e costumes do Brasil nos séculos 17 ao 19.

A assessoria de imprensa da UFRJ não se pronunciou sobre o tema e nem que medidas de segurança foram adotadas para evitar novos furtos nos acervos da universidade. O G1 apurou que as medidas adotadas pela direção foram mudar a fechadura das portas e instalar câmeras na Biblioteca Pedro Calmon, que fica no campus da Praia Vermelha.

O principal suspeito

Laéssio Rodrigues de Oliveira é apontado pela Polícia Federal como o principal suspeito nos furtos das obras da UFRJ. Os investigadores da PF contam que Laéssio criou ao longo de uma década uma estrutura que se movimenta independente de estar preso ou solto.

Atualmente, ele cumpre pena de 12 anos, condenado pela Justiça Federal, pelo furto de 14 livros do Museu Nacional, no Centro do Rio. De acordo com policiais, o primeiro furto ocorreu em 1998, na própria biblioteca: 14 revistas e periódicos, entre elas a "Al Bazar Volante", de música. Os furtos, de obras avaliadas em cerca de R$ 1,5 milhão, duraram um ano. Até hoje, o receptador não foi encontrado.

Em depoimentos à Justiça, Laéssio Oliveira admitiu ter praticado esses furtos. Para a polícia, ele foi o responsável por planejar furtos em 14 acervos instalados em cinco estados do Brasil: São Paulo, Rio, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco.

No início, Laéssio planejava e praticava as ações sozinho. Mas, desde 2005, ainda em liberdade, criou uma organização que, segundo a PF, continua a comandar. Uma vez preso, ele combinou os crimes pelo telefone celular, mas abandonou a prática passando a usar cartas ou passar ordens por meio das visitas, diz a polícia.

Em 2005, voltou a frequentar a faculdade. Segundo a polícia, temendo a vigilância, passou a cooptar mulheres para o grupo, afirma o Ministério Público Federal. Pouco antes do feriado de Corpus Christi, em 2006, Oliveira teria realizado o último levantamento pessoalmente: fotos de Augusto Malta, datadas do século 19, do Arquivo Geral da Cidade, no Rio. Malta é um dos principais fotógrafos do Rio Antigo.

Ex-estudante de Biblioteconomia, Laéssio sempre se passou por aluno ou funcionário da biblioteca ou do acervo que planeja furtar. A partir de 2007, passou cinco anos preso, sendo lilberado por bom comportamento.

Em novembro de 2016, a Delegacia de Atendimento ao Turista de São Paulo o prendeu quando furtava livros da Biblioteca da Universidade de São Paulo (USP).

Fonte: G1