Salvador está vivendo um período de surtos combinados. Além do Zika, estão em circulação vírus respiratórios e intestinais. A junção dessas infecções gera pânico, mas médicos alertam que o perigo maior continua sendo a dengue.
Emergências lotadas, pessoas caindo doente em vários locais da cidade, diagnósticos variados de virose, sintomas preocupantes de mal-estar. Todo esse quadro e a circulação do resultado de uma pesquisa que afirma ter isolado o Zika Vírus no esperma de um homem de 44 anos, do Tahiti, criaram um alvoroço nos serviços médicos da capital baiana que, não bastasse, nas últimas semanas, enfrentam surtos de viroses intestinais e respiratórias, comuns nessa época do ano.
Apesar do alarme que esse panorama causa, o professor da Universidade Federal da Bahia Gúbio Soares, responsável pela identificação do vírus na Bahia, lembra que embora preocupantes, o Zika, as viroses intestinais e respiratórias não são tão importantes ou perigosas quanto a dengue.
O virologista também ressalta que a pesquisa que deu margem para o alvoroço, publicada no Emerging Infectious Diseases, está longe de ser conclusiva e garante que o achado não torna o Zika Vírus uma doença capaz de ser transmitida sexualmente. “Isso não deve ser uma preocupação para as pessoas, pois o Zika não mata, a preocupação de fato deve ser com a dengue, que é muito mais grave e pode ser fatal”, esclarece o especialista baiano.
A possibilidade da transmissão sexual do Zika acontecer já havia sido investigada em 2008. Na época, um homem infectado no Senegal, ao retornar para os Estados Unidos, deixou traços do vírus na esposa. Naquela época, o isolamento do Zika no esperma do não foi feito. O mesmo teste foi realizado com um paciente que estava infectado com dengue e não foi encontrado vírus nem na urina e nem no esperma do infectado.
Soares reconhece que o conhecimento limitado sobre o vírus transmitido pelos mosquitos Aedes albopictus e Aedes aegypti, o mesmo que transmite a dengue e a Chikungunya, termina facilitando a difusão de informações equivocadas e deixando dúvidas sobre as formas de contágio do Zika Vírus. “Por mais que sejam desconfortáveis, é importante lembrar que a evolução do Zika é benigna”, reforça o pesquisador. Segundo os estudos, apenas 18% das pessoas com Zika Vírus apresentarão manifestações clínicas da doença e o período de incubação dura, aproximadamente, quatro dias.
A doença é caracterizada por febre baixa, hiperemia conjuntival (olhos vermelhos) sem secreção e sem coceira, artralgia (dores em articulação) e exantema maculo-papular (manchas com pontos brancos ou vermelhos), dores musculares, dor de cabeça e dor nas costas. Os sinais e sintomas podem durar até 7 dias. Com menor frequência, há relatos também de inchaços, dor de garganta, tosse, vômitos e sangue no esperma, alterando a coloração normal.
O Ministério da Saúde tem alertado que, independente da confirmação de outras amostras para Zika Vírus, é importante que os profissionais de saúde se mantenham atentos frente aos casos suspeitos de dengue nas unidades de saúde e adotem as recomendações para manejo clínico conforme o preconizado no protocolo vigente.
Características
A Medicina reconhece que a principal via de transmissão do Zika Vírus é vetorial, por meio da picada do mosquito Aedes aegypti e após um período de incubação (período entre a picada do mosquito e o início de sintomas) de cerca de aproximadamente quatro dias, o paciente poderá iniciar os primeiros sinais e sintomas.