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Após 2 anos, procuradoria geral pode voltar a ajudar FBI em apurações sobre a CBF

Ricardo Teixeira é um dos dirigentes investigados

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Ricardo Teixeira é um dos dirigentes investigados - Foto: Ueslei Marcelino l ReutersA Procuradoria Geral da República indica que poderá cooperar com os Estados Unidos nas investigações relacionadas com os dirigentes José Maria Marin, Marco Polo Del Nero e Ricardo Teixeira.

A reportagem do Estado revelou com exclusividade em 2015 que uma decisão judicial no Brasil impediu a cooperação com os EUA, o que freou iniciativas do MP no País de confiscar recursos ou o envio aos norte-americanos de documentos relativos aos três dirigentes. O FBI investiga desde 2015 a corrupção na Fifa e os três cartolas brasileiros estão entre os indiciados.

Se em praticamente todos os países latino-americanos a cooperação com o FBI foi intensa nos últimos dois anos, a atuação do Brasil foi inexistente. Uma juíza no Rio havia determinado que a troca de informações não poderia ocorrer e que apenas as mais altas instâncias poderiam dar um sinal verde.

Na época, o MP federal entrou com um recurso, alegando que a decisão de um tribunal no Rio de Janeiro feria os tratados internacionais assinados pelo Brasil. Agora, o Superior Tribunal de Justiça deu razão ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Para que seja efetivada, a Justiça Federal agora precisa dar um sinal verde para a troca de informações.

Em Brasília, procuradores indicaram ao Estado que vão retomar a execução do pedido de cooperação com os EUA. Mas admitem que, dois anos depois do pedido inicial, não sabem se os norte-americanos ainda estariam interessados na documentação. Além disso, o hiato entre o pedido e sua execução pode ter permitido que os recursos, contas e indícios tenham sido destruídos, fechados ou transferidos.

Nos EUA, a apuração sobre Del Nero se debruça sobre pagamentos feitos por José Hawilla, dono da Traffic. A Justiça aponta como o empresário brasileiro foi obrigado a compartilhar um contrato que tinha com a CBF para os direitos da Copa do Brasil com a Klefer a partir de 2011. Para o período entre 2015 e 2022, a Klefer pagaria à CBF R$ 128 milhões pelo torneio, minando a posição privilegiada que Hawilla tinha desde 1989.

Para evitar uma guerra comercial, Hawilla e a Klefer entraram em um entendimento. Mas só neste momento é que a Klefer informou que havia prometido o pagamento de uma propina anual a um cartola da CBF, no caso Ricardo Teixeira.

Essa mesma propina teria de ser elevada a partir de 2012 quando dois outros membros da CBF entrariam em cena. Um deles é José Maria Marin, preso em Zurique e extraditado aos Estados Unidos. O outro, segundo os americanos, seria Del Nero.

Para chegar ao atual presidente da CBF, a Justiça norte-americana tem examinado depósitos e pagamentos feitos pela Traffic nos EUA, assim como pela Klefer.

Já na motivação para pedir a extradição de José Maria Marin, os norte-americanos apontaram dois depósitos como exemplos de como o sistema financeiro dos EUA estava sendo usado no esquema entre os cartolas da CBF.

Uma das contas, porém, chama a atenção do FBI. Trata-se de uma transferência da Klefer, avaliada em US$ 500 mil no dia 5 de dezembro de 2013 a partir de uma conta no banco Itaú Unibanco de Nova Iorque para o HSBC em Londres, em nome de uma empresa fabricante de iates de luxo. O que a Justiça quer saber é quem teria sido o beneficiado pela compra do iate ou pelo pagamento.

Outro foco é Teixeira. O Estado já havia revelado com exclusividade que o FBI havia identificado contas controladas pelo ex-presidente da CBF em pelo menos três bancos: o UBS, Banca del Gottardo e BSI.

Em apenas duas dessas contas, um total de US$ 800 mil foram transferidos de contas nos EUA para a Suíça, envolvendo a Somerton, empresa controlada pelo também brasileiro José Margulies. Ele é suspeito de agir como testa de ferro para o empresário J. Hawilla e realizar os pagamentos de propinas para dirigentes do futebol mundial. A empresa de fachada de Hawilla, portanto, também teria abastecido as contas suíças de Teixeira.

A suspeita do FBI é de que Teixeira usaria um nome de fachada para não ter sua identidade revelada. Mas aparecia como beneficiário das contas. O "laranja" seria Willy Kraus, dono da Kraus Corretora de Câmbio, no centro do Rio de Janeiro. Numa das transações suspeitas, o FBI registrou como a empresa Blue Marina, com contas nos EUA, pediu para transferir seus ativos para a Suíça. No dia 25 de setembro de 2008, a conta em território norte-americano foi fechado e o dinheiro enviado a uma conta de Kraus, na Banca del Gottardo. O valor transferido era de US$ 478,2 mil.

Outro nome registrado pelos americanos era a da socidade Summerton, usada também pelo dirigente. Para o FBI, Teixeira mantinha o "efetivo controle" sobre essas contas. No documento do FBI, os investigadores apontam que acreditam que Kraus "permitia que Teixeira usasse suas contas como forma de esconder sua verdadeira fonte".

Estadão Conteúdo