Brasil

Dois médicos são presos por cobrar partos cobertos pelo SUS no Rio Grande do Sul

Há provas de cobrança indevida há pelo menos 13 anos, que pode ter rendido mais de 1,6 milhão de reais aos acusados

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Dois médicos são presos por cobrar partos cobertos pelo SUS em Itaqui Reprodução / Polícia Federal/Polícia FederalA Polícia Federal deflagrou, na manhã desta segunda-feira, uma operação que investiga a cobrança indevida de partos integralmente cobertos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Foram cumpridos dois mandados de prisão preventiva em Itaqui, na fronteira oeste do Estado. Batizada de Falso Juramento, a investigação identificou dezenas de mulheres que relataram cobrança pela realização de parto cesárea pelos médicos obstetras José Solano Barreto de Oliveira e Alfonso Aquim Vargas — que foram presos nesta segunda-feira — e um anestesista no Hospital São Patrício, em Itaqui. O hospital apresentou documentação de que todo o procedimento foi custeado pelo SUS. As pacientes, com receio de entrar em trabalho de parto, solicitavam diretamente aos médicos uma cesárea, que concediam mediante o pagamento de valores que variavam entre R$ 400 e R$ 1,8 mil. Esses valores eram integralmente embolsados pelos médicos, pois a internação era realizada pelo SUS.

Quem não conseguia obter o dinheiro ficava aguardando o nascimento natural. Há relatos de mulheres que já estavam em trabalho de parto há vários dias, mas os médicos negavam a cesárea se não houvesse o pagamento. Foram identificados casos de sequelas em bebês por terem passado da data do parto e até mesmo o óbito de um recém-nascido.

Há provas de cobrança indevida há pelo menos 13 anos, que pode ter rendido mais de R$ 1,6 milhão aos dois médicos nesse período. Também eram cobrados outros procedimentos cobertos pelo SUS, como cauterização, aplicação de injeção e cirurgias.

Os dois médicos presos foram encaminhados à Penitenciária Modulada de Uruguaiana e responderão pelos crimes de corrupção, associação criminosa estelionato e realização de esterilização cirúrgica ilegal. Em depoimento à PF, ambos negaram ter cometido qualquer cobrança ilegal de serviços. 

O advogado Paulo Rubim, que defende o obstetra Alfonso Aquim Vargas, disse que "por enquanto (não tem) nada a declarar, uma vez que ainda não tomamos conhecimento do inquérito". A advogada Andressa Toniolo Monteiro também disse que "ainda não há nada a declarar, uma vez que os advogados ainda não tiveram acesso aos autos" do indiciamento do médico José Solano Barreto de Oliveira.

Também foram indiciados uma funcionária de um dos médicos, que deve responder por participação em corrupção, e o anestesista, que é suspeito de corrupção e participação na esterilização cirúrgica ilegal.

Reprodução: Zero Hora