Milhares de baianos e turistas se reuniram em frente à Senzala do Barro Preto, sede do Ilê Aiyê, no Curuzu, em Salvador, neste sábado (25), para acompanhar a saída de um dos blocos mais tradicionais da Bahia. Com muita devoção, fé, orgulho de sua negritude e seus 43 anos de história, "O mais belo dos belos", o Ilê Aiyê, fez valer a espera.
O cortejo, que este ano teve como tema “Os povos Ewé/Fon: A influência do Jeje para os afrodescendentes”, saiu da Ladeira do Curuzu por volta das 22h e seguiu para o plano inclinado da Liberdade, onde se encerra o circuito Mãe Hilda.
Vovô do Ilê, fundador do bloco, destacou o papel que o grupo teve como propagador da cultura negra. “Antes do Ilê, o carnaval era muito voltado para o carnaval pernambucano, popularmente conhecido como frevo. Entrou a percussão e as letras das músicas retratam sobre a luta contra o racismo e o orgulho da negritude”, destacou.
Deusa orgulhosa
Dete Lime arruma as deusas do ébano há 43 anos (Foto: Tiago Caldas /Ag Haack)
Como de costume, o ritual teve início com a apresentação e amarração do torso na Deusa do Ébano, Gisele Santos Soares, de 24 anos, moradora do bairro de Itapuã. A eleita foi preparada por uma das fundadoras do bloco, Dete Lima, responsável por todo visual do Ilê e que já preparou 38 Deusas.
Com um sorriso no rosto e nitidamente transbordando orgulho, Gisele falou da alegria de representar o Ilê Aiyê.“É uma honra e uma realização muito grande representar o Ilê como a Deusa do Ébano”. Gisele ainda ressaltou a importância de se reconhecer. “A gente vai aprendendo a se defender. Sofremos racismo todos os dias, por todos os lugares que passamos. E qual a forma de se defender? Através do “empoderamento”, destacou.
Após a apresentação da Deusa, a cerimônia teve continuidade com pedidos de benças aos Orixás, banho de pipoca e a soltura das Pombas Brancas, que marca a saída do cortejo do Curuzu.
Baianos, turistas de vários lugares do mundo, e principalmente moradores da Liberdade e Curuzu, lotaram as ruas, janelas e varandas, deixando ainda mais mágico o desfile.
O francês Olivier Cathus acompanhou o cortejo pela primeira vez (Foto: Tiago Caldas /Ag Haack)
Olivier Cathus, 51 anos, que é francês, acompanhou o cortejo pela primeira vez. Mesmo com um português não tão afinado, tentou explicar e descrever a emoção que teve ao ver o “Ilê passar”. “Eu gostei muito do ambiente, das pessoas. É uma energia muito forte. Se percebe a espiritualidade. É lindo", disse o turista que também é joranalista e revelou ter realizado um sonho.
Ilê coloriu as ruas no Curuzu neste sábado (25), em Salvador (Foto: Enaldo Pinto/Ag Haack)
O cortejo seguiu até o circuito Campo Grande, onde chegou já na madrugada e coloriu a avenida.
(G1) (AF)