O uso da bandeira 2 pelos taxistas soteropolitanos no mês de dezembro está sendo flexibilizada – ou até mesmo extinta, em alguns casos – como forma de enfrentar a crise econômica do país e a concorrência do aplicativo Uber. A prática foi instituída pela prefeitura na gestão Mário Kertész, para beneficiar a categoria no período em que os trabalhadores recebem o 13º salário, mas, neste ano, quem não resolveu extinguir de vez a regra está aderindo ela apenas parcialmente. Na profissão há 17 anos, o taxista Antônio Medeiros, 49, conta que tem usado a estratégia de oferecer 20% de desconto em corridas feitas com bandeira 2. Ele afirma, ainda, que dá ao passageiro a opção de usar a bandeira 1, caso ele prefira. O benefício, segundo o motorista, é, a princípio, só para clientes já conhecidos.
"Com os clientes da rua, que a gente pega no caminho, eu boto a bandeira 2. Mas se ele pedir, barganhar, a gente também cede", diz.
Para ele, a situação complicada enfrentada pelos taxistas vai além da concorrência com o Uber. "Você olha para o setor de turismo e hotelaria e enxerga crise também. O problema é essa crise", opina. A tática de Antônio tem sido utilizada em diversos pontos de táxi, de acordo com a observação do presidente da Associação Metropolitana dos Taxistas (AMT), Vandeilson dos Santos.
O sindicalista afirma que a orientação de flexibilizar a regra foi dada pela entidade à categoria porque a prefeitura, segundo ele, não poderia revogar o decreto que instituiu o benefício.
Além de taxistas autônomos, alguns motoristas que trabalham com empresas de táxi também estão ignorando a 'bandeira 2 de Natal'. É o exemplo da Teletáxi, que decidiu não aderir à regra.
O taxista Elitamar Almeida, 48, que dirige um carro da empresa, conta que a decisão vem gerando uma diferença de lucro. "Mas é pouca coisa", dimensiona. "Surgem mais chamadas, mas a crise está geral", afirma.
"A gente espera que melhore ano que vem, porque em outros anos essa bandeira 2 era uma boa opção para juntar dinheiro", ele torce. O presidente da AMT afirma que apenas a Teletáxi adotou essa resolução.
Segundo o secretário de Mobilidade de Salvador, Fábio Mota, a 'bandeira 2 de Natal' é um benefício "facultativo". Ele conta que, ao ser procurado por representantes da categoria, defendeu essa posição.
"Essa tarifa foi instituída para ser um 13º salário do taxista, mas sempre foi facultativa", explica Mota.
Por causa do acirramento da disputa com o Uber, que já resultou em agressões a motoristas do aplicativo, taxistas ouvidos por A TARDE preferiram não aparecer em fotografias nesta matéria.
Um deles foi Lázaro Pinho, 50. Na profissão há 20 anos, ele afirma que não tem usado a bandeira 2 em dezembro, a não ser a partir das 21h, como já é previsto durante o ano. O motivo da abdicação, segundo ele, é a concorrência, mas não só do Uber.
"Como as pessoas estão optando por Uber, temos que aderir a um valor menor também, senão a gente não trabalha. E ainda tem mototáxi, que é mais barato, e as vans", lembra o taxista.
Reprodução: A Tarde on line