A Câmara dos Deputados enviou nesta sexta-feira (16) um recurso ao ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, pedindo que ele reconsidere decisão de anular a votação do pacote de medidas anticorrupção e devolver o texto à estaca zero. O documento da Câmara, de 16 páginas, foi protocolado no Supremo no início da tarde. O Senado já havia entrado com um recurso.
Na última quarta-feira (14), Fux concedeu uma liminar na qual manifestou que a votação do pacote na Câmara não obedeceu os trâmites necessários para um projeto de iniciativa popular. As medidas anticorrupção foram propostas pelo Ministério Público e tiveram a assinatura de mais de 2 milhões de pessoas. Na Câmara, os deputados aprovaram diversas alterações com relação ao original, o que suscitou críticas de associações de procuradores.
Um dos pontos alegados por Fux é que o projeto deveria ter sido registrados na Câmara com as assinaturas populares
A decisão do ministro repercutiu mal na Câmara e no Senado. Os presidentes das duas casas, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), criticaram nesta quinta-feira (15) a liminar do ministro e já haviam adiantado que iriam conversar sobre um eventual recurso.
No recurso, a Mesa Diretora da Câmara afirma que os questionamentos sobre a forma como o projeto foi protocolado, com a assinatura de deputados, e não com as assinaturas do apoio popular, traz “dúvidas infundadas” sobre a constitucionalidade de normas como a Lei da Ficha Limpa. Segundo a Câmara, a Ficha Limpa, que também é de iniciativa popular, obedeceu os mesmos trâmites que o pacote anticorrupção.
O texto ressalta que a Câmara não conta com pessoal e informações que permitam a aferição das assinaturas coletadas para que o projeto seja protocolado.
A Câmara argumentou ainda que a solução mais correta para solucionar o problema foi vincular a autoria da proposição a um ou mais parlamentares, mantendo a matéria nos termos regimentais previstos para projetos de iniciativa popular.
“A conduta da Câmara dos Deputados não tem o propósito de usurpar a iniciativa popular, pelo contrário. O que se busca com o expediente adotado é, de comum acordo com as entidades que patrocinam a iniciativa popular, viabilizar a propositura da matéria”, afirma o documento.
Numa referência às mudanças que o texto original sofreu, o recurso da Câmara afirma que o Congresso “não pode ser constrangido” a apenas dizer sim ou não à matéria.
“Não há base regimental ou constitucional para restringir a prerrogativa dos membros do Legislativo de debater uma matéria, propor modificações e aprova-la”, diz o texto, também argumentando que a Casa não precisa “simular” apoio público.
Reprodução/G1