Brasil

Parlamentares pediram mais de R$ 5 milhões para livrar empreiteiros de CPI

Os investigadores apuram a solicitação para que não fossem convocados a prestar depoimento na CPMI

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A PF (Polícia Federal) cumpre nove mandados de busca e apreensão nesta segunda-feira (5) em um desdobramento da Operação Lava Jato. Os alvos são o deputado federal Marco Maia (PT-RS), ex-presidente da Câmara (2010-2013), e o ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Vital do Rêgo Filho(PMDB-PB), que exerceu mandato de senador até dezembro de 2014. Os investigadores apuram a solicitação, por parlamentares, de contribuição de empresários –"o clube das empreiteiras", segundo a PGR (Procuradoria-Geral da República)– para que não fossem convocados a prestar depoimento na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) da Petrobras, instalada em 2014. Os executivos apontaram repasses de mais de R$ 5 milhões para evitar retaliações e contribuir para campanhas eleitorais, segundo a PGR.  As diligências foram realizadas por policiais federais acompanhados por membros do Ministério Público Federal e por auditores da Receita Federal. Esta etapa, batizada de "Deflexão", foi pedida pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e autorizada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Teori Zavascki, que expediu os mandados.

16.jul.2014 - CPI da Petrobras teve o ex-senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) como presidente (esquerda) e o deputado Marco Maia (PT-RS) como relator

O nome da operação, "Deflexão", faz referência ao verbo defletir, que significa provocar mudança ou alteração no posicionamento normal de algo. "Uma alusão ao fato de que, mediante propina, empreiteiros investigados passaram à condição de blindados de uma eventual responsabilização", informa a PF.

Os mandados são cumpridos em Brasília, Paraíba e Rio Grande do Sul, nos endereços pessoais, funcionais e empresariais relacionados aos dois investigados: Maia e Vital do Rêgo Filho, relator e presidente da CPMI da Petrobras em 2014, respectivamente.

Em setembro, o empreiteiro Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, acusou o deputado federal Marco Maia (PT-RS) de ter pedido R$ 1 milhão em troca de proteção na CPMI. Na ocasião, Maia disse que as declarações do empreiteiro em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro eram "mentirosas, fruto de retaliação de um criminoso" por ele indiciado na comissão parlamentar.

Em razão das mesmas irregularidades, o ex-senador Gim Argello, vice-presidente da CPMI à época, foi condenado a 19 anos de reclusão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro pela 13ª Vara Federal de Curitiba.

Sobre Rêgo, Pinheiro disse no depoimento a Moro que o então senador esteve numa reunião com ele, o ex-senador Gim Argello (PTB-DF) e o ex-ministro Ricardo Berzoini. Eles teriam tratado de uma blindagem ao governo e às empreiteiras. Rêgo afirmou, na época em que a informação foi divulgada, que "jamais negociou, com quem quer que seja, valores relacionados a doações ilícitas de campanhas eleitorais ou qualquer tipo de vantagem pessoal". 

Maia e Rêgo também foram acusados pelo ex-senador Delcídio Amaral de receber propina para não envolver alguns empreiteiros nas investigações. O procurador-geral da República, apresentou em maio um pedido de investigação ao STF contra Vital do Rêgo e Maia com base em denúncias feitas pelo ex-senador Delcídio do Amaral em delação premiada no âmbito da Lava Jato.

Até o momento, tanto o deputado quanto o ministro do TCU não se pronunciaram sobre a operação desta segunda-feira.

*Colaborou Lucas Azevedo, em Porto Alegre

Reprodução: UOL