Brasil

Aposentadoria 'precoce' faz país perder R$ 24 bi

Montante seria gerado no trabalho e é o custo da saída precoce do mercado

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Depois de ser demitida, Monica Ribeiro entrou com pedido de aposentadoriaFoto: Antonio Scorza

A possibilidade de se aposentar precocemente, por tempo de contribuição, acaba diminuindo o potencial de crescimento da economia, porque retira da força de trabalho pessoas em plena capacidade produtiva. A perda anual com a saída precoce do mercado de trabalho dos cerca de 900 mil brasileiros que se aposentaram, em média aos 58 anos, em 2014, gira em torno de R$ 24 bilhões ou 0,4% do PIB (Produto Interno Bruto, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país ). É o que mostra estudo inédito dos economistas Bruno Ottoni e Fernando de Holanda Barbosa Filho, do IBRE/FGV.

Esse montante diz respeito à renda do trabalho que esse grupo deixou de gerar ao trocar o emprego pela aposentadoria. Os autores do levantamento consideram precoces todos os aposentados com menos de 65 anos, idade mínima que deve ser estipulada para a aposentadoria na reforma da Previdência proposta pelo governo de Michel Temer. Para analistas, a nova regra ajudaria a eliminar estas perdas. Por outro lado, trabalhadores na casa dos 50 anos argumentam que a dinâmica do mercado de trabalho, que privilegia a contratação de pessoas mais jovens, acaba tornando a aposentadoria a única possibilidade de renda a partir de certa idade.

— A aposentadoria precoce é um mal sob qualquer ótica: retira gente produtiva do mercado, aumenta o dispêndio público e incentiva pessoas em plena capacidade de trabalho a não participar do mercado — resume o economista Paulo Tafner, que foi coordenador do Grupo de Estudos da Previdência do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

APOSENTADORIA POR FALTA DE OPÇÃO

Barbosa Filho lembra que o componente demográfico agrava esse quadro, pois a tendência é que a população brasileira passe a ter menos jovens e mais idosos em três décadas:

— As aposentadorias precoces são um problema grave, pois a produtividade tem de aumentar se quisermos ver a economia crescer. A reforma da Previdência é totalmente inevitável.

De acordo com os autores, quando o grupo que se aposentou precocemente em 2014 completar 65 anos, que seria a idade mínima para se aposentar , eles terão deixado de gerar R$ 170 bilhões em riquezas para a economia brasileira. Todos os cálculos foram feitos com base nos dados sobre renda e mercado de trabalho da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicilio (Pnad), de 2014, que eram os mais recentes quando o estudo foi elaborado.

—Entre esses 900 mil que se aposentaram antes de 65 anos em 2014, tem o trabalhador que saiu do mercado, que é o pior caso, pois deixou totalmente de produzir renda, e tem aquele que até continua trabalhando, mas com um salário menor, só para não ficar em casa, pois já tem renda garantida — explica Ottoni.

Na quinta-feira passada, a operadora de telemarketing Monica Ribeiro, de 56 anos, e o eletrotécnico Alexandre Araújo, de 54, deram entrada no pedido de aposentadoria, por tempo de contribuição. Ambos se sentem com saúde, disposição e produtividade para seguir em suas carreiras. No entanto, os dois ficaram desempregados recentemente e não conseguiram mais se recolocar. Viram na aposentadoria uma possibilidade de garantir renda em um momento em que se sentem duplamente ameaçados: pela falta de perspectiva de conseguir uma vaga de emprego e pela iminente reforma da Previdência, que mudará as regras da aposentaria.

— Não fosse o desemprego e o medo de não saber o que vem pela frente, eu nunca buscaria me aposentar agora. Mas o seguro-desemprego já acabou e estou tendo de fazer uma engenharia para sobreviver com a indenização — conta Alexandre, que mora com a esposa, que é professora, no Leme, e trabalhou por 12 anos na última empresa.

Reprodução/O Globo