Brasil

Índios de tribo isolada na Amazônia são fotografados pela 1ª vez em RR

Imagens foram feitas pela Funai e divulgadas pela associação Hutukara.

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No sobrevoo realizado em setembro de 2016, aproximadamente 15 índios foram vistos na comunidade, segundo a Hutukara (Foto: Guilherme Gnipper/Hutukara/Divulgação)

A Hutukara Associação Yanomami divulgou nesta terça-feira (22) fotografias de uma tribo indígena Yanomami que vive isolada na Amazônia, em Roraima. As imagens são as primeiras feitas da comunidade, conforme a associação.

Segundo Dário Kopenawa Yanomami, vice-presidente da Hutukara, a tribo é denominada Moxihatëtëa e fica na circunscrição do município de Alto Alegre na Terra Indígena Yanomami, no Norte do estado, a 1h30 de voo de Boa Vista. Nela, vivem índios que recusam contato até com outros indígenas.

"É muito difícil a gente chegar lá por que eles atacam com flechas. Eles são muito bravos. Atiram no avião quando estamos fazendo sobrevoo. Ficam muito desconfiados. Não querem a nossa presença e nem da sociedade não-indígena", afirmou Dário.

As primeiras informações oficiais sobre a existência da tribo surgiram no final da década de 1990, quando índios da Missão Catrimani encontraram rastros da comunidade. Eles foram vistos pela primeira vez em um sobrevoo em meados de 2006.

Dez anos depois, em setembro de 2016, um sobrevoo realizado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) registrou pela primeira vez a comunidade em fotos.

Conforme Dário, pelo sobrevoo não é possível afirmar quantos índios vivem na maloca [casa], mas se estima que a população seja de aproximadamente 15 pessoas.

Eles vivem em total isolamento e sobrevivem exclusivamente do que cultivam e caçam na floresta.

"Eles retiram todos os recursos da natureza. Tem os alimentos próprios que são a macaxeira, banana, a cana e eles produzem lá a alimentação. Nas fotos que obtivemos é possível ver que tem uma roça, então provavelmente eles não estão passando fome".

Apesar de não terem contato com os demais Yanomami, os Moxihatëtëa são considerados da mesma etnia porque possuem o mesmo tronco linguístico, informou Dário.

"Meu avô e meu tio já tentaram se aproximar deles há muitas décadas, mas nessa época tinha guerra entre os Yanomami e os Moxihatëtëa. Depois acabaram os conflitos e meus ancestrais tentaram uma amizade, mas os Moxihatëtëa não querem contato, não querem nossa saúde, a Funai, nossa educação. Não querem aproximação", disse.

De acordo com o vice-presidente da Hutukara, a tribo costumava migrar, mas há pelo menos 10 anos estão com a maloca no mesmo local. "Nesse sobrevoo foi possível ver que eles aumentaram a maloca e que estão fixados no mesmo lugar", disse.

A preocupação da Hutukara é que há cerca de 15 quilômetros da comunidade existem balsas de garimpo que podem ameaçar a sobrevivência da tribo.

Garimpo
Dário afirmou que existem relatos de garimpeiros que tentaram entrar em contato com a tribo, o que teria gerado conflito.

"A gente ouviu comentários de garimpeiros que tentaram se aproximar, eles não aceitaram e acabou havendo briga. Quando o não indígena chegava lá eles matavam com flechas. São um povo guerreiro", afirmou.

Além disso, por ser uma tribo isolada, a Hutukara afirma que ainda hoje não tem informações sobre o real impacto dos garimpeiros na comunidade.

"A gente não sabe quantos Moxihatëtëa já morreram com doenças transmitidas pelos garimpeiros, morreram pelos instrumentos usados no garimpo ou através da poluição do mercúrio. Por isso nós da Hutukara, a Funai e outras ONGs estamos preocupados".

O G1 tentou contato com a Funai mas não obteve retorno.

Reprodução/G1