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MPF investiga se Cabral usava linha telefônica para negociar propina

No documento, o MPF relatou que Sérgio Cabral, Wilson Carlos e Carlos Miranda usavam telefones com outros nomes para ocultar as negociações.

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O ex-governador do Rio Sérgio Cabral é conduzido por agentes da Polícia Federal após ser preso em nova fase da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro (Foto: Guito Moreto/Agência O Globo)Documentos do Ministério Público Federal indicam que Sérgio Cabral e seus assessores usavam linhas telefônicas em nome de outras pessoas. A informação foi publicada pelo colunista José Casado nesta terça (22) pelo Jornal O Globo. De acordo com o texto, Cabral usava uma linha telefônica registrada em nome de uma mulher e este número era para negociar propinas. 

Ainda de acordo com a coluna, com base nos dados do Sistema de Investigação de Registros Telefônicos e Telemáticos, o Sittel, o Ministério Público Federal chegou a um número cadastrado em nome de Nelma de Sá Saraca, e que, ao analisar as mais de 500 ligações entre os investigados, os promotores chegaram a conclusão que essa era uma linha usada exclusivamente pelo ex-governador Sérgio Cabral. 

O ex-governador do Rio Sérgio Cabral é conduzido por agentes da Polícia Federal após ser preso em nova fase da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro (Foto: Guito Moreto/Agência O Globo) 

No documento, o MPF relatou que Sérgio Cabral, Wilson Carlos e Carlos Miranda usavam telefones com outros nomes para ocultar as negociações. O ex-governador Sérgio Cabral usava o telefone em nome de Nelma de Sá, Carlos Miranda usava a linha registrada em nome de Boomerang Comércio de Veículos e Wilson Carlos na de Luiz Cláudio Maia. Os promotores também se basearam no depomento de Alberto Quintaes, diretor na Andrade Gutierrez e delator da Operação Calilute. 

Cabral cita Pezão em depoimentos 
No primeiro depoimento dado aos investigadores, o ex-governador negou as acusações e citou o atual governador, Luiz Fernando Pezão, como um dos responsáveis pelas obras públicas investigadas. 

O ex-governador se referiu às denúncias como “mentiras absurdas” e disse estar indignado e ter a consciência tranquila. Cabral ainda alegou desconhecer qualquer pedido de propina a empreiteiras e que sua política foi voltada para o crescimento econômico do Rio. 

Sobre a licitação de reforma no Maracanã, Sérgio Cabral respondeu que a obra começou na gestão de Luiz Fernando Pezão, que, na época, era secretário de Obras. E negou ter beneficiado a empresa delta, uma das responsáveis pela reforma do estádio, em troca de propina, como diz a denúncia contra ele. 

O ex-governador disse que o atual governador e então secretário Luiz Fernando Pezão, tinha contato com o empresário Fernando Cavendish e outros empreiteiros que tratavam com a secretaria. Cavendish era o dono da construtora Delta. Ele é suspeito de pagar propina para ganhar os contratos – e de lavagem de dinheiro. O empresário foi preso em julho durante a Operação Saqueador. 

No interrogatório, Sérgio Cabral disse que Hudson Braga, que também foi secretário de Obras, e que também foi preso na semana passada, foi apresentado a ele por Luiz Fernando Pezão e que outro preso, José Orlando Rabelo, outro envolvido no esquema, também teria relações com o atual governador. 

Rabelo, segundo Sérgio Cabral, exercia uma função na secretaria de Obras no período que Pezão estava à frente da secretaria. Até o momento, o governador Pezão não quis comentar as citações ao nome dele. Nesta terça, o governador está em Brasília. 

Cabral disse também que a construtora Delta faturou valores mais elevados durante a gestão da ex-governadora rosinha garotinho do que durante o seu mandato. O depoimento completo tem 18 páginas e foi dado pelo ex-governador na sede da PF na última quinta-feira, dia de sua prisão. Os procuradores perguntaram se Sérgio Cabral conhece alguns dos acusados de fazer parte da organização criminosa. 

O ex-governador disse que sempre atendia executivos das diversas construtoras envolvidas em corrupção, que às vezes era procurado ou até os convocava para o controle de obras, mas que nos encontros sempre havia outras pessoas, como os secretários de Obra, Luiz Fernando Pezão e Hudson Braga. 

Sobre Carlos Miranda, apontado pelos procuradores como o homem da mala, que recolhia o dinheiro da propina, Sérgio Cabral diz que são amigos de infância. Perguntado se alguma vez Carlos Miranda pediu ou recebeu propinas no nome dele, o ex-governador diz que nunca solicitou a Carlos Miranda que agisse desta forma. E questionado se Miranda cuidava de sua contabilidade e pagamentos, o ex-governador disse que não. 

No entanto, em outro trecho, Cabral se contradiz e diz que sim, que Carlos Miranda o auxiliava em sua vida pessoal financeira. 

Os investigadores perguntaram ainda sobre a Gralc Consultoria, empresa de Carlos Miranda, que recebeu incentivos fiscais do estado. A empresa é apontada como uma das principais no esquema de lavagem de dinheiro. No depoimento, o ex-governador disse que várias outras empresas de vários segmentos tiveram incentivos fiscais. 

No interrogatório, foi questionada a relação do ex-governador com Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, condenado pela operação Lava-Jato. Sérgio Cabral disse que nunca teve relação de amizade ou relações privadas com ele. E que nunca interviu em questões relacionadas com a Petrobras ou com o complexo petroquímico do Rio, o Comperj, em Itaboraí. 

Por várias vezes, o ex-governador Sérgio Cabral disse em depoimento que não se lembra dos fatos citados, como compra de bens de luxo em nomes de outras pessoas, como joias, móveis e também reformas na casa dele. E quando se lembrava das compras, não se lembrava da forma de pagamento, mesmo os gastos sendo altíssimos. 

Sobre compras em três das joalherias mais sofisticadas do país, ele diz que em uma comprou uma ou duas vezes, e não se lembra se o pagamento foi em espécie ou em cartão. Em outra, ele disse acreditar que fez compras uma ou duas vezes, mas também não se recorda a forma de pagamento. Em uma terceira joalheria, ele disse que não se recorda de ter comprado. 

O ex-governador também foi questionado sobre uma reforma feita na casa dele. Os investigadores perguntaram quem fez as contratações de obra e compra de mobiliário para a sua residência. Ele disse que não se lembra. No total, foram gastos mais de R$ 100 mil. 

Os investigadores quiseram saber porque as notas fiscais, relativas a compra dos móveis, estão em nome de Sônia Ferreira Batista, uma assessora do ex-governador, apontada como parte do esquema de lavagem de dinheiro. O ex-governador afirmou que também não se recorda. 

O Ministério Público acusa Sérgio Cabral de prestar serviços fictícios de consultoria como forma de lavar dinheiro de propina. O ex-governador disse que tem uma empresa de consultoria, a Objetiva, e contou que faz encontros de aconselhamento. Perguntado se conhece a empresa "Creação Opção Jeans", que tem como sócio o amigo Gustavo Mohammad, o ex-governador disse que presta assessoria para a empresa há um ano. 

Questionado se teria como apresentar relatórios, levantamentos que comprovem tais serviços, ele disse que não, pois tais aconselhamentos se davam de forma mais pessoal. No fim do depoimento, Sérgio Cabral disse que acredita na Justiça. 

A ex-funcionária de Sérgio Cabral, Sônia Ferreira, não foi encontrada pela equipe de produção do RJTV 1ª edição. Já o advogado da "Creações Opção" disse que o dono da empresa, Gustavo Mohammed, não é amigo de Sérgio Cabral e que a empresa entregou todos os documentos de serviços prestados pela Objetiva, empresa do ex-governador. 

Reprodução: G1 – RJ/ 

(Foto: Guito Moreto/Agência O Globo)]