Um vídeo feito na tarde desta quarta-feira (16) mostra dois policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar deixando o cerco a Alerj durante protesto de servidores contra o pacote de austeridade do Governo. Segundo o autor do vídeo, um dos militares teria dito, logo após a corporação soltar bombas: "Não queremos mais participar disso".
É possível ouvir o estampido de uma delas no início do vídeo. As imagens foram feitas por Julio Trindade. Nelas, os militares são ovacionados por ativistas que os acompanharam. "Parabéns, guerreiro", diz um. "Boa, Choque", diz outro. O vídeo foi publicado em uma rede social e obteve milhares de visualizaçõesem poucos minutos (veja no link ao lado).
A manifestação era contrária aos projetos apresentados pelo Governo e havia até doações de alimentos a servidores e pensionistas que passam por dificuldades financeiras em meio ao atraso de salários.
Inicialmente, os ativistas não compreenderam porque os dois policiais iam no sentido contrário ao cerco. Até que um deles se explicou e passaram a ser aplaudidos. "A população abraçou, começou a aplaudir. Era vaia para o que o Choque estava fazendo [jogando bomba] e aplauso para os dois", diz Trindade.
De acordo com ele, houve truculência dos policiais. Ele estava a alguns metros da confusão, em frente ao Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), ajudando uma senhora com um bebê de colo que passava mal com o spray de pumenta e as bombas.
O autor do vídeo relata ainda que um oficial se aproximou dos dois e também deu parabéns. "Eles não poderiam abandonar o posto, então foram caminhado até um local onde estavam estacionados os carros do Choque", conta.
Confusão
Manifestantes derrubaram as grades da Alerj, por volta das 12h05 desta quarta-feira (16), em um protesto no primeiro dia de votação do pacote de medidas para combater a crise do estado. Em resposta, o Batalhão de Choque da Polícia Militar usou bombas de efeito moral para dispersar os manifestantes.
Houve muita correria, mas um grupo continuou resistindo. Às 13h15, uma nova confusão ocorreu e a polícia chegou a jogar gás de pimenta na direção dos manifestantes. Por volta das 13h30, um grupo tentou invadir o prédio da assembleia chegando a derrubar uma parte da segunda barreira de grades que isolam o prédio do Palácio Tiradentes.
PM pode se manifestar, diz comandante
Há duas semanas, o comandante-geral da PM já havia dito que policiais poderiamparticipar de protestos. Wolney Dias Ferreira disse, no entanto, que a corporação não tinha mercenários.
"Ninguém vem pra cá para se tornar rico. Salário é uma questão motivacional, mas não é a única", afirmou.
Nos bastidores, porém, policiais temiam represálias se fossem identificados em manifestações. Os comandos de alguns batalhões chegaram a marcar reuniões no mesmo horário que ocorrerá o protesto, mas desmarcaram. Outros, surpreendenemente, desmarcaram reuniões comunitárias para que o máximos de PMs de folga fossem ao protesto.
Reprodução/G1