Os números da greve dos bancários chamavam a atenção na quarta-feira, 5. A paralisação completou 30 dias, se igualando à mais longa da história, ocorrida em 2004, segundo nota do sindicato da categoria em São Paulo, Osasco e Região. Seriam 42 mil funcionários de braços cruzados. A Confederação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) contabilizava 13.104 agências e 44 centros administrativos paralisados – algo como 55% do total de agências de todo o Brasil.
Não é possível porém, contabilizar os transtornos que os clientes dos bancos estão enfrentando de Norte a Sul do País. Apesar dos caixas eletrônicos e da digitalização via tablets, computadores e celulares, uma séria de serviços ainda depende do atendimento na boca do caixa.
Os que mais sofrem são os clientes que têm o azar de ter algum problema com o cartão no meio da paralisação e não têm a quem recorrer. Lucia Helena Agostinho Damico, de 46 anos, vive esse transtorno em Santos, no litoral de São Paulo.
Bloqueados
Lucia cuida das finanças da mãe, Maria de Lourdes Agostinho Damico, de 71 anos, que tem restrições de mobilidade após dois AVCs (Acidente Vascular Cerebral), usa uma cadeira de rodas para sair de casa e toma dez remédios diariamente. Os gastos com medicamentos passam de R$ 1 mil por mês. Desde o dia 26 de setembro, o cartão da mãe está bloqueado. “No caixa eletrônico, surgiu uma mensagem informando que a senha precisa ser revalidada. O cartão foi bloqueado sem nenhum aviso anterior. Havia um funcionário orientando os clientes e ele confirmou que minha mãe precisa entrar na agência para fazer a revalidação pessoalmente. Só que todas as agências estão fechadas. Como fazer? O dinheiro é dela e está retido”, diz Lucia.
Em São Luís, no Maranhão, a servidora Elza Araújo, de 53 anos, tem problema parecido. Não consegue ter acesso à conta porque o seu cartão venceu no meio da paralisação. Ela acredita que os bancários estão no seu direito de fazer greve, mas que deveria haver um mínimo de funcionários para resolver esse tipo de problema. O aposentado José Pires Collins, 79 anos, também de São Luís, teve o cartão bloqueado e nem sabe o motivo. Não consegue sacar a aposentadoria, nem ter acessar às economias. “Quero resgatar parte do meu dinheiro que está em investimentos e poupanças, porém não consigo. Nunca vi uma greve neste País a esse nível”. Colins chegou a ir ao Procon para tentar ser atendido.
O empresário Lúcio Carvalho, de 39 anos, de Sorocaba, interior de São Paulo, é da velha guarda por opção. Deixou de fazer operações bancárias pela internet depois que uma de suas contas foi invadida e sofreu transferências indevidas. “Não confio mais nesse sistema, além do mais, ele não permite saques e preciso ter dinheiro porque alguns de meus funcionários não têm conta em banco.”
Carvalho diz que está acumulando prejuízos ao longo da greve: atraso no pagamento dos funcionários, demora no recebimento por mercadorias e serviços prestados, juros do cheque especial usado para pagar fornecedores, juros pelo atraso no pagamento de boletos e o tempo perdido. “Meu advogado disse que é possível e estamos contabilizando tudo o que tivemos de prejuízo por causa da greve”, diz o empresário.
Até um simples cheque pode render dor de cabeça. O auxiliar administrativo Nilton Jones, de 25 anos, de Belo Horizonte, não pode receber uma dívida. O amigo que lhe deve precisa descontar um cheque para fazer o pagamento. O amigo não tem conta no banco. Precisa ir numa agência para sacar. “Com os bancos fechados isso é impossível”, diz Jones.
O vigilante Marcelo Moreira, de 38 anos, também da capital mineira está no grupo dos que se atrapalharam com a corrida do dia a dia e agora têm contas pendentes. “Não consegui pagar nos caixas rápidos e usei uma lotérica, mas há limite para o recebimento de contas”, conta.
Na quarta-feira, 5, representantes de bancos e bancários voltaram a negociar. As conversas estavam suspensas desde o dia 28 de setembro. O encontro foi solicitado pelos bancos, que são representados pela Federação Nacional dos Bancos (Fenaban). Não havia definição sobre o rumo do movimento até o fechamento da edição. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.