A Polícia Federal (PF) abriu nessa terça-feira (27) inquérito relacionado à 35ª fase da Operação Lava Jato, que prendeu o ex-ministro da Casa Civil no governo Dilma Rousseff e ex-ministro da Fazenda no governo Lula, Antonio Palocci. O inquérito investiga contratos de obras realizadas pela empreiteira Odebrecht em que há suspeita de interferência do ex-ministro. A base da investigação é a planilha que revelou o Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht – departamento cuja finalidade seria pagamento de propina a agentes políticos.
O inquérito vai investigar supostos crimes de corrupção ativa e passiva, quadrilha, lavagem de capitais e de fraude a licitações.
Além de Palocci, foram presos temporariamente na fase mais recente da Lava Jato o ex-secretário da Casa Civil Juscelino Antônio Dourado, e Branislav Kontic, que atuou como assessor do ex-ministro.
A chamada operação “Omertá”, em referência ao silêncio de mafiosos em autoproteção, deflagrada na segunda-feira (26), de acordo com a Força-Tarefa é “decorrência lógica” do aprofundamento das investigações da 23ª fase da Lava Jato, que revelou planilhas do Setor de Operações Estruturadas da empreiteira Odebrecht.
O delegado Filipe Hille Pace declarou na segunda que o objetivo desta etapa é embasar investigações, com apreensão de documentos, depoimentos e prisões.
A partir da análise de e-mails e anotações registradas em celulares apreendidos, a Força-tarefa afirma ter evidências de que o ex-ministro Antônio Palocci – com auxílio de seu assessor Branislav Kontic – atuou em favor dos interesses do Grupo Odebrecht, entre 2006 e o final de 2013, interferindo em decisões tomadas pelo governo federal.
“O fato da colaboradora Maria Lúcia Guimarães Tavares (ex-funcionária da Odebrecht ) foi a única que teve coragem de quebrar o silêncio que impera na Odebrecht”, disse o o delegado Filipe Hille Pace, em coletiva de imprensa na sede da Polícia Federal em Curitiba.
“Ela sabia apenas o codinome de feira atribuído ao casal (João Santana e Mônica Moura). Mas as informações que ela trouxe foram fundamentais”.
São investigados pagamentos feitos ao PT, por meio de depósitos pela Odebrecht intermediados por Antônio Palocci: R$ 33,3 milhões via offshores ao casal João Santana e Mônica Moura, além de R$ 10 milhões por meio da empresa Shelbil, R$ 44 milhões recebidos por Jucelino Dourado (ex-assessor de Palocci) e outros R$ 7 milhões em 2012.
Obras
São investigadas na Operação Omertà, 38 obras da empreiteira Odebrecht em todo o País e no exterior. O relatório do delegado federal Filipe Hille Pace relacionou os alvos da investigação (veja imagens abaixo). “Relaciono algumas das obras públicas e/ou consórcios e empresas indicadas no documento mencionado, repetindo que, por se tratarem de arquivos recuperados, estão parcialmente corrompidos, não sendo permitindo vincular diretamente as obras e/ou consórcios e empresas indicadas com os beneficiários encontrados e mencionados acima”, afirma.
Provas
Segundo os integrantes da força tarefa, o material analisado e que embasou a operação desta segunda-feira foi encontrado em outras fases da Operação, como por exemplo, uma planilha encontrada durante a fase Acarajé e outra encontrada no celular de Marcelo Odebrecht.
Segundo o MPF, os pagamentos feitos à conta eram constantes. “Existe um pagamento que é feito constantemente e que forma um caixa mesmo, uma poupança e de onde são depois, pelo gestor da conta, no caso o senhor Antônio Palocci, destinados aos pagamentos de interesse do partido”, disse a procuradora Laura Gonçalves.
Defesa
O advogado de Palocci, José Roberto Batochio, criticou a prisão de seu cliente, dizendo que tudo ocorreu de maneira secreta, ao estilo ditadura militar. “Estamos voltando aos tempos do autoritarismo, da arbitrariedade. Não há necessidade de prender uma pessoa que tem domicílio certo, que foi duas vezes ministro, que pode dar todas as informações quando for intimado. É por causa do espetáculo?”, disse.
Fonte: Uol