UPA animal

Protetoras de animais sofrem retaliação após protestarem contra serviços da Prefeitura

O grupo argumenta que a Diretoria Animal cancelou o CPF de algumas delas, de modo a impedir que procurem atendimento nas unidades

Foto: Max Haack/Secom
Foto: Max Haack/Secom

Protetoras de animais alegam sofrer retaliação após protestarem contra serviços prestados pelas UPAs de Salvador. O grupo deixou de buscar atendimento nas unidades e passou a procurar as clínicas com convênio com a Prefeitura. Apesar disso, segundo informaram ao PSNotícias, a Prefeitura começou a cancelar os CPFs delas, impedindo de procurarem procedimentos para seus animais.

Uma das denunciantes é Marisa Pinto. A protetora informou que se nega a usar as UPAs e passou a procurar as clínicas conveniadas, Centervet e Vida Animal. Segundo ela, assim quando o Poder Público percebeu essa movimentação de diversas protetoras, cancelaram o convênio com a Centervet, que atendia com uma clínica e um castramóvel. Portanto, a ação, segundo ela, teria como objetivo obrigar os protetores a retornarem para as UPAs.

Cabe destacar que as UPAs animais de Salvador são fruto da parceria com o projeto social da vereadora Marcelle Moraes (União). A veterinária foi secretária municipal de Sustentabilidade e Resiliência (Secis) a partir de 2022. Neste ano, saiu do cargo, como exige a legislação, para ser reeleita vereadora nas eleições de 2024. Ademais, Marcelle é cotada para retornar ao posto na próxima reforma no secretariado.

DIPA

Em 2019, enquanto vereadora, Marcelle Moraes foi autora do projeto de lei que criou a Dipa (Diretoria de Defesa de Animais de Salvador). Ao PSNotícias, protetoras alegam que Marcelle aparelhou esse órgão, que é peça-chave no esquema de retaliação contra as protetoras.

“A Dipa não atende nossas reclamações. Quando reclamamos, simplesmente não deixam a gente castrar. Bloqueiam nosso CPF para não conseguimos castrar, não conseguimos vagas”, é o que denuncia a protetora Cristina Novaes. 

Além disso, a Dipa já foi alvo de outras denúncias por ser inerte, apenas servindo de cabide de emprego. É o que alega a ex-vereadora Ana Rita Tavares, quando teve a crise dos gatos abandonados em Itapuã. Por conta do caso, em 2020, foi movida uma representação na PGJ, tendo a Diretoria como uma citada das responsáveis pela crise. 

A Diretoria ainda estaria constando o CPF de pessoas como se tivessem executados mais castrações do que de fato foram feitas. Desse modo, a Prefeitura paga pelo serviço, mesmo sem ser executado.

“O nome de muitas de nós está na Dipa como se a gente tivesse castrado mais animais do que castramos, para que as UPAs possam ganhar o valor das castrações. Ele usa nosso CPF para ganhar o valor de castração. Ou seja, eles não estão executando o serviço e ganhando. A Dipa é cabo eleitoreiro”, denunciou Marisa.

Atendimento nas UPAs

A UPA dos animais cobra pelo serviço, com consultas variando entre 50 e 110 reais, dependendo do dia da semana em que o atendimento ocorre. Apesar do valor mais acessível, as protetoras alegam que o local sempre exige um alto número de exames. Desse modo, aumenta o valor do atendimento. Mesmo assim, os procedimentos não encontram sucesso em sua realização, é o que narra a protetora Maria da Conceição Ribeiro.

“O atendimento da UPA é péssimo, eu levei minha gatinha pra lá. Achei tudo muito estranho, porque fiz um pagamento de R$480,00 por uns exames. Após isso, me devolveram ela e voltamos para casa. No outro dia de manhã ela piorou. Eu levei ela pra uma clínica, que me pediram os resultados dos exames realizados na UPA. E eles me disseram que era para levar a gata de volta para fazer os exames de novo. Eles não me entregaram os resultados. A impressão que deu foi que os exames não foram feitos”, ponderou Conceição.

A protetora foi mais uma das que denunciou, ao PSNotícias, os procedimentos mal feitos nas unidades. Conceição afirmou que, após pagar R$320,00 na castração de 4 gatos, precisou levar os animais para atendimento em um novo médico. Nesse caso, ela precisou arcar com antinflamatório e antibiótico, já que os cortes deixaram o animal muito exporto.

“O atendimento nas UPAs é horrível, não aconselho ninguém levar seus animais para lá”, bradou Conceição.

Retaliação

Ao questionarem junto à DIPA a situação dos cortes mal feitos, as protetoras não obtiveram retorno. O grupo ainda alega que, quando denunciou a situação pelo Instagram, tiveram seus comentários bloqueados. Desde então, começou uma represália ao grupo.

“Fizeram retaliação contra a gente porque sabem que nós, protetoras, não votamos em Marcelle Moraes. A gente passou a só castrar na Vida Animal ou na Centervet. UPA nunca mais. E aí cortaram o convênio da Centervet, as suas duas clínicas e o seu castramóvel. Salvador hoje só tem um castramóvel e uma clínica. Sendo que nossa demanda é enorme, em especial no fim de ano que muitas pessoas viajam e abandonam os animais”, acrescentou Marisa Pinto.

Marcelle Moraes

Em entrevista ao PSNotícias, Marcelle Moraes negou as acusações e afirmou que a Prefeitura de Salvador é presente. A ex-secretária ainda destacou o apoio da gestão municipal com as protetoras, além de agir para evitar o aumento do abandono animal.

“A gestão de Salvador é bem presente, nós temos um programa de castração, que eu criei enquanto secretária, em que a gente castra mais de três mil animais gratuitamente através dos Castramóveis da cidade”, destacou.

O grupo ouvido pela reportagem acusa a vereadora de não apoiar os protetores. Segundo elas, os projetos não apresentam continuidade e são apenas eleitoreiros. Um dos exemplos citados, nesse sentido, é o programa “Ração para quem precisa”, que beneficiou apenas 51 inscritos. Além disso, por questões licitatória, o projeto chegou a ficar oito meses sem ajudar os protetores e as ONGs.

“A espera é enorme e os animais comem 3 vezes ou mais por dia”, argumentou a protetora Evelin Pereira, sobre a falta de continuidade na entrega da ração.

Questionada sobre a relação com os protetores, Marcelle destacou que a Secretaria atua para ajudar o grupo. “Diferente de munícipes comuns, que tem até 3 fichas por dia para levarem seus animais, os protetores não tem limite para castrar”, explicou. 

Apesar disso, a vereadora reconheceu que o Poder Público ainda pode fazer mais, como ampliar o número de castramóvel na cidade e realizar a castração de rede. As demandas já foram apresentadas para o prefeito Bruno Reis (União), e devem ser implementadas.

“Por meio de um projeto de indicação meu, que ainda irei encaminhar para Prefeitura estabeleceremos um programa de sede. Hoje os castramóveis atuam em animais com tutores e nós precisamos castrar os animais de ruas. Outra forma forma é aumentar o quantitativo de vaga no Castramóveis. São debates que eu já traço com o prefeito Bruno Reis. Não vejo de forma nenhuma a Prefeitura se omitindo, muito pelo contrário, eu vejo uma tentativa do Poder Público em minimizar o abandono”, finaliza. 

Nota da Secis

Em nota, a Secretaria a Secretaria de Sustentabilidade, Resiliência, Bem-estar e Proteção Animal (Secis) se posicionou sobre as queixas contra a DIPA:

“A Secretaria de Sustentabilidade, Resiliência, Bem-estar e Proteção Animal (Secis) esclarece que: para emissão da guia do animal, se faz necessário que o tutor encaminhe aos canais oficiais da Diretoria de Promoção à Saúde e Proteção Animal (Dipa) – [email protected] e [email protected] – uma fotografia do seu CPF, comprovante de residência, dados e carteira de vacina do animal. Apenas após esse procedimento, com os dados completos, a guia é emitida. Quanto às supostas queixas de serviços realizados em UPA, a Dipa não recebeu qualquer manifestação nesse sentido em seus canais oficiais. Reiteramos a necessidade desse protocolo para que seja possível adotar qualquer medida cabível, dando início a um eventual procedimento de apuração da denúncia. A Secis segue trabalhando para o melhor atendimento aos animais e tutores de Salvador, buscando defender a saúde dos nossos animais”, afirmou.

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