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Dia da Mulher: Entenda os impactos da desigualdade de gênero no mercado de trabalho

Com menor presença em cargos de poder, é notória a desigualdade de gênero nos ambientes trabalhistas.

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil

Os debates envolvendo os direitos das mulheres na sociedade têm avançado nos últimos anos, no entanto, ainda há muito o que melhorar. São inúmeros problemas enfrentados diariamente, como violência, feminicídio, falta de representatividade na política, dupla jornada, maternidade solo e escassez nas  oportunidades do mercado de trabalho.

Com menor presença em cargos de poder, é notória a desigualdade de gênero nos ambientes trabalhistas. Este combo reflete na longa jornada de patriarcado, e uma trajetória cansativa de luta por direitos.

“Ainda está presente na sociedade o papel da mulher cuidadora, que exerce um trabalho invisível e não-remunerado desde quando são meninas, e também a questão do viés inconsciente, quando consideram homens mais competentes do que mulheres para muitas funções. E quanto mais alto o cargo e o nível hierárquico, vemos menos espaço para a atuação das mulheres, que têm muito potencial e competências relevantes”, explicou Lina Nakata, responsável pela Pesquisa Lugares Incríveis para Trabalhar, em entrevista ao Portal Salvador FM.

Segundo os dados da pesquisa, na região Nordeste as mulheres ocupam 42% do quadro de funcionários, e apenas 36% dos cargos de liderança, o que equivale a dois pontos percentuais abaixo da média nacional.

“Vamos levar mais de 200 anos para alcançar a equidade de gênero, se seguirmos o ritmo que temos. A ideia é que as empresas trabalhem com mais ações afirmativas para a questão de gênero, e temos visto um bom movimento para isso”, disse Nakata.

MATERNIDADE SOLO E AMBIENTE DE TRABALHO

Uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas revela que após 24 meses, quase metade das mulheres que tiram licença-maternidade não está mais presente no mercado de trabalho. Dentre 247 mil mães, 50% foram demitidas após, aproximadamente, dois anos da licença maternidade.

Os dados reforçam a disparidade no mercado de trabalho do tratamento dado às mulheres que se tornam mães em comparação aos homens que se tornam pais.

Thaiana de Castro é Relações Públicas, tem 36 anos e é mãe de Eduardo, de 5. Ela afirma que antes da vida materna não sentia nitidamente as consequências das diferenças de gênero, mas após o nascimento de seu filho, tudo mudou, sobretudo porque ele tem uma condição de saúde que exige atenção.

“Quando eu voltei da licença à maternidade, estava tudo muito diferente no trabalho. Conversei até com minha gerente, ‘meu filho tem algumas questões, ele precisa ir mais ao médico do que uma criança saudável, e isso pra mim não é negociável’”, explicou.

Passado um período, ela resolveu mudar de emprego e, ao passar por processos seletivos, sentiu a diferença de tratamento.

“A pessoa pergunta se você é mãe, né? ‘Tem filho?’ ‘Tenho’. ‘Quando você vier trabalhar, com quem o seu filho vai ficar?’ E isso muitas vezes são perguntas feitas por pessoas de RH, que são mulheres, muitas vezes que são mães. Esse tipo de pergunta não é feita pros homens. Nem se pergunta se os homens têm filhos, se não têm filhos, e com quem eles vão ficar enquanto a pessoa vai trabalhar”, relatou.

Além dos desafios, há a autocobrança. Thaiana conta que escolhas precisam ser feitas e é preciso colocar na balança o que, de fato, vale a pena.

“A mulher, quando ela se torna mãe, ela tem muito disso. Vê se vale a pena, se vai compensar. E muitas vezes são escolhas difíceis, né? De você abdicar de um trabalho para cuidar do seu filho, ou vice-versa. E a gente se culpa muito por sair e trabalhar o dia todo. Às vezes, querer se dedicar numa carreira com alguns objetivos, pensando lá na frente melhorias, em futuro. E, ao mesmo tempo, você está perdendo o dia a dia do seu filho”, desabafou.

“O MUNDO QUE VIVEMOS FOI CRIADO ATRAVÉS DE UMA PERSPECTIVA MASCULINA”

O Brasil ocupa a 130ª posição em igualdade salarial, segundo o Relatório Global Sobre a Lacuna de Gênero. Para Luana Farias, escritora e pesquisadora sobre a Nova Economia do Trabalho e Aprendizagem, as consequências da desigualdade no mercado de trabalho feminino contribuem para a exclusão social e são decorrentes de  assédios e práticas discriminatórias, comportamentos sexistas, como mansplaining, manterrupting e bropriating e jornadas duplas ou triplas.

“O mundo que vivemos hoje, foi criado através de uma perspectiva masculina. Nós, mulheres, não estamos totalmente presentes em espaços de tomadas de decisões, ainda há muito o que mudar. A construção das relações de trabalho pautadas em valores masculinos é um dos principais fatores. A mulher durante décadas  foi excluída da participação efetiva nos espaços públicos, do trabalho fora do âmbito doméstico e da possibilidade de desenvolvimento científico e intelectual por meio da educação formal, além de estarem submetidas (isso ainda ocorre) ao poder de homens de sua família, em geral seus pais e maridos”, explicou Luana.

A diferença de remuneração entre homens e mulheres, que vinha em tendência de queda até 2020, voltou a subir no país e atingiu 22% no fim de 2022, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Isso significa que uma brasileira recebe, em média, 78% do que ganha um homem.

A Bahia tem 48,6% mulheres na força de trabalho no mercado formal e informal e as desempregadas correspondem a 19,3%. Dentre as mulheres que estão fora dessas relações, compondo 51,4% desse mercado, estão aquelas que chegaram à condição de desalentadas, totalizando 11%, segundo pesquisa do IBGE/PNAD Contínua, de 2022.

ENCONTRANDO SOLUÇÕES 

A pesquisadora aponta que uma saída encontrada pelas mulheres é a internet, que oferece acesso a um leque mais amplo de oportunidades de emprego e carreira, possibilitando a qualificação profissional a novos modelos de emprego, rompendo barreiras e dando mais poder e voz às mulheres

“Uma economia que estabelece valores e princípios femininos por meio da: cooperação, co-criação, colaboração, interdependência, interação, inovação, integridade, conexão com a natureza, crescimento cíclico, cuidado e empatia. Portanto, é  fundamental investir em temas ligados ao futuro e as habilidades humanas.  Vozes femininas sugerem caminhos para espaços mais participativos, criativos e inclusivos”, conclui Luana.

No âmbito das políticas públicas, o Governo Federal criou uma lei para garantir remuneração igual entre homens e mulheres que exercem a mesma função.

Na legislação, a diferença já é proibida pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), mas faltam mecanismos que garantam que a lei seja cumprida.