Ninguém sabe, ninguém viu. Esse é clima no restaurante do shopping Morumbi em que o advogado de Jair Bolsonaro (PL), Frederick Wassef, foi abordado por agentes da Polícia Federal enquanto jantava e teve quatro celulares apreendidos. A ação foi discreta e rápida, não chamou a atenção dos clientes e a ordem para os funcionários é não tocar no assunto para que o estabelecimento não fique estigmatizado.
Na noite de quarta-feira, 16, o advogado do ex-presidente teve quatro celulares apreendidos pela PF. Ele jantava em uma churrascaria, dentro do shopping que fica em uma das regiões mais caras de São Paulo, rodeada de lojas de grifes.
Wassef tinha dois celulares em mãos e mais dois dentro do carro. Ele foi acompanhado pelos agentes policiais ao estacionamento por uma porta nos fundos do restaurante. Lá, constataram que o advogado usou a vaga destinada para pessoas com deficiência. No shopping Morumbi, a primeira hora de estacionamento custa R$ 35.
A churrascaria onde a discreta abordagem aconteceu tem 30 anos, um único dono, quatro endereços em São Paulo, um em Brasília e outro em Salvador, além de filiais internacionais. Dificilmente se janta ali com menos de R$ 150: a carne mais barata, de frango, custa R$ 105. Esse valor é para um corte de 300g, que serve uma pessoa. O carro-chefe da casa é a tira de chorizo, prato para dois, que custa R$ 256.
Nesses pratos, vem só a carne. Acompanhamentos e saladas são cobrados à parte. O buffet de saladas, sozinho, custa R$ 89,50. O cardápio faz jus ao preço: salmão, queijos finos, cogumelos, alcachofra, palmitos em cortes generosos. Os drinks custam a partir de R$ 30, um valor considerado normal para a capital paulista, e o restaurante tem uma seleção de whiskies, cujo preço das doses chega a R$ 182. A extensa carta de vinhos contempla etiquetas de 13 países. A garrafa mais cara é italiana e custa R$ 2.450.
O luxo não fica só nos preços – os banheiros são revestidos de mármore marrom e têm todos os comandos automatizados. Depois de se servir no buffet, garçons se oferecem para jogar fora as luvas de plástico usadas pelos clientes. Há mesas externas e internas, nas quais cabem, seguramente, 250 pessoas. Dentro do restaurante, algumas mesas ficam sobre um tablado, mais altas, ao lado de uma adega de vinhos, que é apenas decorativa. A adega verdadeira fica do lado da cozinha.
Funcionários da limpeza, atendentes de outros estabelecimentos, agentes de segurança do shopping: ninguém viu ou ficou sabendo da presença da Polícia Federal e da apreensão dos celulares de Wassef. Uma das pessoas com quem a reportagem conversou, brincou: “A PF veio sim. O príncipe da Arábia Saudita estava aí ontem. Escoltado por um monte de gente”. A informação não procede.
Funcionários do shopping que conversaram reservadamente com o Estadão e que estiveram no local no dia da abordagem do advogado disseram que não houve qualquer movimentação na entrada do restaurante e apontaram a possibilidade de que tenha acontecido uma saída “à francesa”, pelos fundos do restaurante. Isso porque os restaurantes do piso lazer do shopping, onde fica o Barbacoa, têm uma saída que dá para um corredor comum, que dá acesso a uma escadaria que leva ao estacionamento do shopping.
O episódio não intimidou Wassef de voltar ao shopping na quinta-feira, 17. Ele foi visto de camiseta preta e calça jeans com uma sacola de uma loja de celulares – possivelmente comprando um novo aparelho, para substituir os que a PF apreendeu.
Com informações do Estadão