Cerca de 1.500 indígenas de 30 povos espalhados por todo o estado estão acampados próximo a sede da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), em Salvador, até o próximo domingo (18), com o objetivo de chamar a atenção para as demandas desses grupos e, especialmente, com relação ao chamado Marco Temporal, que foi aprovado pela Câmara dos Deputados e está sob análise do Senado Federal, em Brasília.
Ao todo, a área externa na frente da ALBA conta com tendas onde acontecem encontros temáticos, artesanato indígena, entre outras atividades. Eles foram recebidos pelos secretários Davidson Magalhães (Trabalho, Renda e Esporte), Felipe Freitas (Justiça e Direitos Humanos) e Larissa Moraes (Infraestrutura Hídrica e Saneamento). Além deles, marcou presença o deputado estadual Fabrício Falcão (PCdoB).
"Viemos mostrar a Bahia quem são os povos indígenas, quem são os trinta povos da Bahia, com o intuito de buscar as políticas públicas pra dentro dos nossos territórios, resolver os nossos problemas territoriais e tratar das questões fundiárias com mais respeito", afirmou Patrícia Pankararé, uma das organizadoras do acampamento, que foi aberto oficialmente nesta terça-feira (16).
De acordo com ela, entre as principais demandas dos povos originários na Bahia também estão questões relacionadas a saúde, educação e infraestrutura. Mas, de acordo com Patrícia, sem dúvida, o ponto prioritário é a questão da território.
"Sem a terra nós não somos ninguém. Sem a terra não há políticas públicas. Sem os nossos territórios não tem saúde, não tem educação, não tem benefício nenhum pro nosso povo. Também precisamos pensar na nossa economia, como é que nós podemos fazer a nossa economia dentro do nosso território", afirmou.
Marco Temporal
Outro tema de extrema importância apontado por ela diz respeito ao chamado Marco Temporal e está em discussão no Congresso. O texto delimita as terras indígenas a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, o que tem sido visto pelos povos originários como um retrocesso.
"Nós esperamos, de todo coração, que o Brasil entenda, assim como fora do Brasil todos já entendem, que o Marco Temporal é o genocídio dos povos indígenas. Nosso Brasil não começou em 1500. Nós já estávamos aqui quando eles chegaram, invasores e colonizadores. Nossa história também não começa em 1988. Estamos aqui há muito mais tempo. Essa que é a nossa casa. Nós vamos lutar contra o Marco Temporal até o fim e esperamos que o Senado tenha uma resposta positiva pra nós", afirmou Patrícia Pankararé.
"Nós zelamos pela natureza. O que eles não sabem é que o ar que eles respiram depende de nós. A mata depende de nós, porque se fosse por eles, os nossos rios já estavam todos cheios de minério. Se fosse por eles, nossa natureza já tinha acabado, e se fosse por eles não existia mais um povo pra falar da medicina tradicional que tanto eles precisam pra desenvolver seus remédios farmacêuticos", desabafou.
Com mais de 1.500 pessoas de 30 povos da Bahia, indígenas se reúnem em Salvador pic.twitter.com/wbi0L16sKi
— Portal Salvador FM (@PortalSsaFM) June 13, 2023