Política

Receita Federal estaria sendo pressionada por Bolsonaro para liberar joias desde momento da apreensão

Conflito começou em outubro de 2021 no aeroporto de Guarulhos

Isac Nóbrega/PR
Isac Nóbrega/PR

A direção da Receita Federal em Brasília já estaria sendo pressionada pela equipe do ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, desde a apreensão das joias, em outubro de 2021. Os esforços giravam em torno da tentativa de liberação dos bens avaliados em cerca de R$ 16,5 milhões, que foram presenteado pelo regime da Arábia Saudita para o casal Bolsonaro.

As informações são do jornal O Estado de São Paulo. Segundo a publicação, Bento Albuquerque ainda estava no aeroporto quando a chefia da Receita, que era comandada pelo então secretário José Tostes, foi acionada pela equipe do então ministro sob alegação de que havia um problema na alfândega que poderia atrasar a conexão do voo de Bento.

A partir deste momento, o então subsecretário de Tributação da Receita,  Sandro Serpa, recebeu um telefonema do chefe de gabinete do ex-ministro, o contra- almirante José Roberto Bueno Junior.

Segundo Serpa, durante a ligação Bueno relatou que havia um “problema em Guarulhos” envolvendo as bagagens da comitiva do ministro e se referiu a um “presente” que poderia atrasar a conexão do seu próximo voo, que seguiria até Brasília.

No entanto, o chefe de gabinete do ex-ministro alegou que não haviam auditores para atendimento na alfândega, naquele momento, o que Serpa disse ter estranhado, já que os servidores da Receita trabalham 24 horas por dia.

No dia da apreensão, o subsecretário de Tributação da Receita afirmou que após receber a ligação do auxiliar do ministro Bento, entrou em contato com o então superintendente da Receita na 8 ª Região Fiscal de São Paulo, José Roberto Mazarin.

“Eu fiquei preocupado com a informação de que o ministro iria perder o voo por conta de um suposto não atendimento da Receita. Esse foi o principal motivo de eu ligar para o superintendente”, disse.

Serpa disse ainda que Mazarin retornou horas depois, informando que tinha havido a apreensão de um conjunto de joias inicialmente avaliado em US$ 265 mil. Naquele momento, o subsecretário teria recebido a foto das joias enviada pelo superintendente da Receita em São Paulo.

O ex-subsecretário do Fisco relata que se surpreendeu com a imagem e reconheceu o excelente trabalho realizado pela Receita Federal. Ele afirma que no dia seguinte comunicou ao então secretário especial da Receita, José Tostes, sobre o caso, que o disse já estar ciente sobre a situação.  Após 37 dias, Tostes perdeu o cargo.

Serpa informou que não tratou mais do assunto, porque o tema era de responsabilidade do setor aduaneiro da Receita. Ele acredita que foi o primeiro a ser procurado porque conhecia Bento Albuquerque e José Roberto Bueno quando os três trabalharam no mesmo período na embaixada Brasileira em Washington.