O fluxo de venezuelanos para o Brasil no mês de janeiro, o primeiro do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), intensificou-se na comparação com o ano passado.
Foram 16.939 pessoas a chegar do país vizinho, segundo a Polícia Federal.
É o maior patamar desde janeiro de 2022 e um acréscimo de 16,6% sobre o primeiro mês do ano passado, quando entraram 14.521 venezuelanos no Brasil.
Na média diária das chegadas de refugiados, o salto é ainda maior. Em todo o ano passado, foram 441 pessoas entrando no Brasil diariamente, contra 546 em janeiro de 2023, ou 23,8% a mais.
Governado pela ditadura de Nicolás Maduro, a Venezuela vive uma crise humanitária há mais de uma década, em razão da profunda crise econômica que afeta o país.
Procurada, a Operação Acolhida, que lida com a chegada dos venezuelanos no país, não se manifestou sobre os números.
Para Tomás Guzmán, diretor de Relações Institucionais da Casa Venezuela, ONG que lida com refugiados do país vizinho, o pico em janeiro é reflexo da disparada do dólar na Venezuela no final do ano passado. A cotação da moeda americana dobrou entre novembro e dezembro, depois de um período de relativa calmaria.
“Isso se reflete quase que de forma imediata na dificuldade de as pessoas comprarem alimentos básicos. Numa economia dolarizada como a venezuelana, o impacto disso no fluxo migratório é quase imediato”, diz ele, que foi representante no Brasil do autoproclamado presidente Juan Guaidó até 2022.
Além disso, afirma Guzmán, a Operação Acolhida, comandada pelo Exército, é referência internacional em resposta a crises migratórias, o que acaba servindo como um fator de atração de imigrantes.
Roque Renato Pattussi, coordenador-executivo do Cami (Centro de Apoio Pastoral do Migrante), afirma que os dados de janeiro são influenciados por fatores sazonais. “Muitas pessoas aproveitam a falta de trabalho no período de Natal e Ano Novo para voltarem à Venezuela de férias, e depois entram novamente no Brasil”, diz.
Pattussi diz que não há registro de que o número de venezuelanos interiorizados, ou seja, deslocados para outras partes do Brasil, aumentou em janeiro, o que significa que grande parte do fluxo extra está ficando em Roraima.