Diante do impacto das mortes recorrentes e episódios violentos contra indígenas no sul da Bahia, a corrente do PSOL, Revolução Solidária, criou o projeto "Psicólogos Solidários", um grupo que vai atuar no suporte à saúde mental e atenção voltada aos povos originários que vivem em terras ainda não demarcadas e em situação de conflito.
A proposta visa, inicialmente, fornecer atendimentos terapêuticos online para indígenas abalados com os casos de extrema violência que repercutiram na imprensa. Recentemente, dois jovens Pataxó foram assassinados brutalmente na cidade de Itabela, perto de Porto Seguro. Eles participavam de uma ocupação a uma das fazendas localizadas no território indígena de Barra Velha.
Um policial militar, suspeito de fornecer serviço de pistolagem a fazendeiros da região, foi preso após se entregar, suspeito de envolvimento no duplo homicídio. Foram ao menos quatro assassinatos de indígenas na região nos últimos quatro meses.
Uma das profissionais à frente da proposta, Rachel Mendes explica que o grupo surge em meio ao desmonte de órgãos públicos que deveriam tratar do cuidado à saúde indígena, acentuado nos últimos quatro anos de governo Bolsonaro.
"A gente reconhece que os povos indígenas estão passando por várias dificuldades para a sua reconstrução diante de um governo tão obsoleto que passou. Precisamos retomar as lutas e apoiar o povo que está muito traumatizado com diversos casos violentos tão próximos da sua realidade, envolvendo ainda crianças e jovens das aldeias em nosso estado", destaca a psicóloga.
A crise humanitária dos yanomamis em Roraima, segundo Rachel, também foi um dos motes que inspiraram o "Psicólogos Solidários". A psicóloga pede atenção do poder público pois situação semelhante pode ser vivida pelos indígenas baianos.
"Não só no Sul, mas vários indígenas passam por muitas dificuldades há muito tempo, que não foram sanadas. São coisas que nos mobilizam enquanto profissionais, para ter uma ação efetiva e também cobrar das entidades uma avaliação real das populações indígenas em nosso estado, começando por formar esse grupo de apoio às famílias com os 'Psicólogos Solidário'", explica.
Candidata ao Senado pelo PSOL em 2022 na Bahia e integrante da corrente Revolução Solidária, Tâmara Azevedo afirma que o objetivo inicial é atender de forma emergencial os indígenas, mas que é necessário reivindicar intervenção do poder público, buscando diferentes entidades que podem se somar e ajudar na iniciativa.
"A ideia é já começar o atendimento de urgência, mas com o objetivo de transformar em projeto e mobilizar entidades responsáveis pela saúde indígena e ir atrás, cobrar deles o atendimento integral para as comunidades, pois sabemos a realidade dos indígenas na Bahia", justificou.
Pela primeira vez na história, a Funai é presidida por uma indígena, a deputada Joenia Wapichana, nomeada pelo presidente Lula (PT), que também criou o Ministério dos Povos Originários, comandado por Sônia Guajajara, quadro do próprio PSOL.
Na Bahia, o governador Jerônimo Rodrigues (PT) incluiu a Superintendência dos Povos Originários na Secretaria de Promoção de Igualdade Racial (Sepromi), que fica responsável por fiscalizar e definir políticas públicas voltadas para esta população.