Brasil

Garimpeiros ofereciam ouro e comida para estuprar adolescentes

Sem o costume de consumir bebida alcoólica, as jovens eram seduzidas a beberem com os garimpeiros

Ricardo Stuckert/PT
Ricardo Stuckert/PT

A crise sanitária dos Yanomami em Roraima expôs problemas graves enfrentados pela comunidade há anos, principalmente com o avanço do garimpo ilegal na região.

O relatório "Yanomami Sob Ataque", elaborado pelas associações Hutukara e Wanasseduume Ye'kwana, mostra que garimpeiros ofereciam comida e ouro em troca de abusarem sexualmente das filhas dos indígenas locais.

"O que se observa é a utilização do ouro e da comida como meios de seduzir e envolver indígenas e ter acesso aos seus territórios", afirma Luísa Molina, antropóloga do ISA (Instituto Socioambiental).

Em 2020, segundo relato de uma liderança, pelo menos três garotas de aproximadamente 13 anos foram mortas após serem estupradas diversas vezes pelos garimpeiros.

"Depois que os garimpeiros que cobiçam o ouro, estragaram as vaginas das mulheres, fizeram elas adoecer. Estão transando muito com as mulheres. É tanto assim que, em 2020, três moças, que tinham apenas por volta de 13 anos, morreram. Os garimpeiros estupraram muito essas moças, embriagadas de cachaça. Elas eram novas, tendo apenas tido a primeira menstruação", diz uma indígena yanomami.

Sem o costume de consumir bebida alcoólica, as jovens eram seduzidas a beberem com os garimpeiros, e, com a perda da consciência, ficam ainda mais vulneráveis para serem vítimas dos abusadores.

O relatório mostra que eles usavam artifícios para conseguir a confiança dos indígenas, entregando ouro e depois condicionando novas ajudas à obrigação dos pais de levarem as filhas para serem usadas como moeda de troca.

Os homens do garimpo, portanto, passaram a ser vistos na comunidade como grandes ameaças e figuras violentas.

"Quando as pessoas disseram que eles se aproximavam, eu fiquei com medo. Por isso, desde que ouço falar dos garimpeiros, eu vivo com angústia", admitiu uma yanomami.

Outra só pede que possa morrer de causa natural, sem violência ou pela própria fome instaurada com o isolamento e avanço do garimpo.

"Não queremos que nossos maridos sejam mortos pelos garimpeiros, depois que se instalem nas proximidades. Não quero morrer de fome. Eu quero morrer simplesmente de velhice, sem outras causas. Eu quero morrer como uma mulher idosa", lamentou.