Incomodado com a repercussão de declarações sobre a necessidade de priorizar programas sociais que colocariam em dúvida a responsabilidade fiscal, o presidente eleito Lula (PT) se defendeu e relembrou o resultado econômico dos seus dois governos.
No Egito, onde participa da COP27, o petista se disse satisfeito com a carta aberta de economistas que alertaram para o risco de não considerar as reações negativos no mercado.
Em entrevista ao lado do primeiro-ministro português, António Costa, em Lisboa, Lula afirmou ser humilde e disse que sabe seguir bons conselhos.
“Eu fico chateado quando questionam a política fiscal. Eu digo que ninguém tem autoridade para falar de política fiscal comigo, porque durante meu governo fui o único país do G20 a ter superávit fiscal em todos os anos”, disse ele, durante entrevista coletiva em Portugal.
“Eu fiquei feliz quando companheiros disseram que tinha uma carta de pessoas importantes, inclusive de ex-ministros, me alertando de problemas econômicos e até me aconselhando. Eu sou um cara muito humilde, eu gosto de conselho e se o conselho for bom, pode ter certeza que eu sigo”, acrescentou.
Os economistas Armínio Fraga, Edmar Bacha e Pedro Malan, que apoiaram Lula no segundo turno da eleição presidencial do mês passado contra o atual presidente Jair Bolsonaro, publicaram uma carta aberta ao petista no jornal Folha de S.Paulo depois que o presidente eleito criticou novamente a regra do teto de gastos e desdenhou das reações do mercado financeiro às suas falas.
No texto, os economistas disseram que "a alta do dólar e a queda da bolsa não são produto da ação de um grupo de especuladores mal-intencionados" e que "a responsabilidade fiscal não é um obstáculo ao nobre anseio de responsabilidade social".
Lula, que havia atacado o mercado e afirmado que a queda da bolsa era resultado de "especuladores", moderou o tom na entrevista concedida em Portugal.
Em meio às negociações para a aprovação da chamada PEC da Transição, que abre novas exceções no teto de gastos, Lula afirmou que não há razão para o temor do mercado em relação ao futuro governo na questão fiscal. Ele disse que vai conjugar o atendimento da população com a responsabilidade fiscal.
"Vou voltar fazer o povo sorrir, vou aumentar o salário mínimo, vou voltar a gerar emprego neste país, e vamos voltar a ser responsáveis do ponto de vista fiscal sem precisar atender tudo o que o sistema financeiro quer", disse.