Os transtornos alimentares são condições psiquiátricas caracterizadas por alterações persistentes nas refeições ou em comportamentos relacionados aos hábitos alimentares. Quando há alteração no consumo ou na absorção de alimentos, isso afeta a saúde física e mental do indivíduo. De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, estima-se que mais de 70 milhões de pessoas no mundo sejam afetadas por algum transtorno alimentar, incluindo anorexia, bulimia, compulsão alimentar e outros.
A anorexia nervosa e a bulimia apresentam grande incidência entre os jovens. As mulheres são as mais acometidas por esses distúrbios, sendo a anorexia a de maior incidência no público de 12 a 17 anos e a bulimia se mostrando mais presente no início da vida adulta. Mara Maranhão, psiquiatra especialista em transtornos alimentares da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), destaca que esses comportamentos "estão relacionados a maiores taxas de mortalidade entre os transtornos mentais”.
Na anorexia nervosa a pessoa restringe a alimentação, geralmente iniciando com uma dieta comum e, com o passar do tempo, essa limitação se intensifica, levando a grande perda de peso. O jejum recorrente também faz parte das características apresentadas pelo transtorno. Muitos quadros de anorexia acabam levando à desnutrição.
Na bulimia, em situações recorrentes, o indivíduo ingere uma grande quantidade de alimentos num espaço curto de tempo e, em seguida, passa a utilizar 'métodos compensatórios' para evitar o ganho de peso, que incluem a indução de vômito e o uso de laxantes e diuréticos.
Os transtornos alimentares estão diretamente relacionados à distorção de imagem, segundo a psiquiatra. “O medo excessivo de ganhar peso e o valor próprio muito centrado na imagem são fatores fundamentais para o diagnóstico", explica.
Sinais e sintomas
Geralmente os responsáveis e as pessoas mais próximas são os que detectam os sinais de alerta. Aquele que sofre com o transtorno dificilmente será capaz de identificar alterações. Alguns sintomas merecem atenção.
Nos casos de anorexia:
Realização de dietas que se tornam cada vez mais restritivas com o passar do tempo, observação constante das embalagens de produtos e contagem de valor calórico, isolamento para não se alimentar junto da família, comportamento de se pesar e medir o corpo com frequência.
Nos casos de bulimia:
Episódios de compulsão alimentar onde a pessoa passa a comer muito rápido e em grande quantidade, ela se direciona ao banheiro logo após a ingestão desses alimentos para provocar vômito ou após grande ingestão de comida o indivíduo decide fazer um longo período de jejum, além da compra de grandes quantidades de laxantes e diuréticos sem prescrição médica.
A atividade física excessiva é uma característica comum tanto nos casos de anorexia quanto nos casos de bulimia.
Consequências
Os transtornos alimentares precisam ser identificados, diagnosticados e tratados o mais rapidamente possível, pois podem acarretar em outros problemas de saúde, levando até à morte. “A anorexia nervosa é o transtorno mental com maior taxa de mortalidade, tanto pelas complicações físicas, como as alterações cardiovasculares, por alterações psiquiátricas e por suicídio”, alertou a especialista da UNIFESP.
É frequente que pacientes diagnosticados com anorexia nervosa ou bulimia também tenham outras doenças psiquiátricas relacionadas. Estes quadros favorecem o desenvolvimento de doenças físicas associadas à desnutrição e doenças psiquiátricas, dentre elas, depressão e ansiedade.
SUS
O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza atendimento para pessoas em sofrimento psíquico por meio dos serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). A Atenção Primária à Saúde é a porta de entrada para o cuidado e desempenha papel fundamental na abordagem dos Transtornos Mentais, principalmente os leves e moderados, não só por sua capilaridade, como também por conhecer a população, o território e os determinantes sociais que interferem nas mudanças comportamentais, dispondo de melhores condições para apoiar o cuidado.
Diferentes níveis de complexidade compõem o cuidado, sendo os CAPS – Centro de Atenção Psicossocial, em suas diferentes modalidades, pontos de atenção estratégicos da RAPS. Serviços de saúde de caráter aberto e comunitário, constituído por equipe multiprofissional e que atua sobre a ótica interdisciplinar, podem ser encontrados.