Pouco após dar a facada no então candidato à presidência Jair Bolsonaro, Adélio Bispo foi espancado por policiais no primeiro andar de um prédio comercial na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais.
A cena foi descrita no livro "O Ovo da Serpente", da jornalista Consuelo Dieguez, com o subtítulo "Nova Direita e Bolsonarismo: Seus Bastidores, Personagens e Chegada ao Poder".
Ele foi levado por policiais federais ao prédio, onde teve a camisa tirada e começou a apanhar para que contasse a motivação do crime. A sessão de espancamento só parou quando chegou o tenente-coronel Marco Antônio Rodrigues de Oliveira, comandante do 2° Batalhão de Polícia Militar de Minas Gerais, chegou no ambiente.
Foi quando constatou, com base em conversa com Adélio, que se tratava de alguém com desequilíbrio mental. Enquanto apanhava, o autor da facada não gritou nem chorou, e se manteve com o olhar perdido.
Dieguez estuda a ascensão de Bolsonaro e disse ter se impressionado ainda em 2016 com o seu comportamento e do seu eleitorado.
"Fiquei impressionada como ele arrebatava uma multidão apaixonada que fazia questão de se dizer de direita. Que dizia ter orgulho de ser de direita. O que não ouvíamos no país desde o fim da ditadura", conta a jornalista.
A facada, hoje provada ter sido uma fatalidade, foi determinante para a campanha de Bolsonaro adotar outra estratégia: a de silenciar. Mesmo posteriormente com atestado, ele não compareceu aos debates e, segundo Dieguez, ainda ao deixar a Santa Casa em Juiz de Fora, teria dito a aliados: "É só não fazer mais nada que a eleição está ganha".
Entre outros assuntos, o livro discorre sobre a dificuldade da imprensa em lidar com uma nova forma de campanha e candidato como Bolsonaro e também vai a fundo na sua estratégia nas redes sociais.