Médicos e pesquisadores do Rio investigam uma morte e mais de duas dezenas de casos suspeitos de síndromes neurológicas associadas ao vírus zika no estado. Em alguns dos casos o zika foi identificado por exame de PCR (molecular) em urina ou tecidos dos pacientes. Em outros, há só a correlação entre sintomas da infecção por zika seguidos pelo desenvolvimento de síndrome de Guillan-Barré, encefalite ou encefalomielite.
Essas doenças podem causar desde confusão mental e perda de coordenação a convulsões e paralisia, parcial ou total. A morte ocorreu em janeiro, um paciente com encefalite atendido na rede particular do Rio. Mas, falta a comprovação por PCR de que ele tinha zika. Os médicos destacam que não há motivo para pânico. Casos assim são raros. Mas merecem atenção pela gravidade.
— Somente uma parcela muito pequena das pessoas que tiverem zika poderá sofrer complicações neurológicas. Porém, não sabemos ainda que percentual e por que isso acontece. Há muito o que investigar — afirma o professor titular de neurologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e especialista em síndrome de Guillan-Barré Osvaldo Nascimento.
FALTAM RECURSOS
Ele realiza um estudo com o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) para pesquisar características genéticas e imunológicas desses casos. Há em investigação cerca de 20 casos de síndrome de Guillan-Barré e outros cinco de encefalite e encefalomielite, segundo ele. Nascimento organiza no sábado, em Natal, um encontro de especialistas em síndromes neurológicas que têm atendido casos de associação com zika para discutir diagnóstico, tratamento e pesquisa.
— Verificamos casos de encefalite e encefalomielite ligados ao zika. Mas não sabemos exatamente como o zika poderia causar essas doenças — explica Nascimento.
A professora de neurologia da UFF Camila Castelo Branco, que trabalha com Nascimento no Hospital Universitário Antônio Pedro, observa que pacientes com comprometimento do cérebro e da medula, isto é, de encefalite e encefalomielite, têm chamado a atenção dos médicos devido à gravidade.
— É muito importante pesquisar isso agora para podermos atender melhor esses pacientes. Só que esses estudos esbarram na falta de recursos, na morosidade de processos em comitês de ética e na má notificação — destaca a neurologista.
Outros casos suspeitos de complicações neurológicas e zika estão sendo atendidos no Hospital Federal dos Servidores do Estado (HSE). O coordenador assistencial do HSE, Sylvio Provenzano, explica que cerca de 20 casos de associação de zika com síndromes neurológicas foram atendidos no HSE, a maioria de Guillan-Barré.
— Temos cinco pacientes internados, dois cuja relação com o zika estão confirmadas. Estamos montando uma força-tarefa, com várias especialidades, para atender não só esses pacientes quanto grávidas com zika — diz Provenzano.
Foto: Reprodução/O Globo